Homero: o primeiro grande poeta grego
Homero foi o primeiro grande poeta grego cuja a obra chegou até nós. Teria vivido no século VIII a.C., período coincidente com o ressurgimento da escrita na Grécia. Consagrou o gênero épico com as obras Ilíada e Odisséia.
Além destas, mas sem respaldo histórico ou literário, são a ele atribuídas as obras Margites, poema cômico a respeito de um herói trapalhão; a Batracomiomaquia, paródia burlesca da Ilíada que relata uma guerra fantástica entre ratos e rãs, e os Hinos homéricos.
É muito citado entre os estudiosos da ética dos
gregos, o registro feito por Homero do testemunho do velho Nestor, o
único idoso e sábio que acompanha os aqueus no sítio que moviam à cidade
de Tróia, (Canto XI da Ilíada), relatando um encontro que ele assistira
um tanto antes da guerra, no palácio do rei Peleu, o pai de Aquiles.
Na cerimônia em que o filho apresentava seus respeitos para ir acompanhar Agamêmnon e Menelau na missão de resgatar Helena das mãos dos troianos, o pai aconselhou-o "a ser sempre o melhor (aristeuein) e estar acima dos demais".
Que o jovem buscasse através de façanhas inauditas, vir poder exercer a sua virtude (areté). Galgar algo que fosse merecedor do reconhecimento dos seus pares para, com isso, ter assento no reino dos heróis imortais, aqueles que jamais saíam da lembrança dos homens.
Aquela exortação do pai orgulhoso a um filho que parte para a guerra
continha a essência dos objetivos de um nobre, de um fidalgo: devotar-se
na busca da excelência, sobrelevar-se, tornar-se alguém memorável. Todo
o Código do Cavaleiro que por séculos iria orientar a aristocracia
helênica baseava-se pois apenas nisso: a obrigação de tentar ser alguém
extraordinário, inesquecível, cuja fama correria o mundo.
Nada mais podia vir a interessar um autêntico guerreiro, que para tanto devia ser provido de thymos, o ânimo, impulso que dará início a sua legenda. Tal como um tablado serve para um ator expor seu histrionismo, o campo de batalha serve como um amplo teatro onde, aos olhos dos demais valentes, ele demonstra suas habilidades e virtudes excepcionais; corajoso na refrega, magnânimo na vitória.
O teste definitivo se dava em meio aos gritos lancinantes dos feridos, ao cheiro forte do sangue derramado, do relinchar selvagem dos corcéis, da gritaria geral de fúria, de horror ou de êxtase da soldadesca em meio ao Campo de Marte. O confronto singular era, por assim dizer, o exercício obrigatório que ele devia cumprir na conquista da areté. Viver é Combater!
Ressalte-se que a pugna somente merecerá o registro, só ficará na história e no canto do rapsodo, se ela se der entre os da mesma estirpe: um nobre de linhagem, de sangue aristocrático. É entre leões que se dá a embate. Só um deles merecerá os louros sagrados da vitória. Nenhum valor lhes seria acrescentado à fama enfiar uma lança num peito plebeu, gastar o fio da lâmina num infante qualquer, num anônimo que ninguém sabe de onde veio.
Entre os tantos encontros na arena relatados por Homero ao longo da Ilíada (os que envolvem morte e ferimentos são mais de 140 registros, descritos um a um pelo gênio poético dele), merece a atenção o de Glauco (um jovem guerreiro lício.filho de Anfilioques, que lutava do lado troiano) com o enfurecido Diomedes (filho de Tideo, um espadachim terrível que veio junto com os gregos, e que além da ferocidade natural era protegido pela deusa Atena).
Um pouco antes de chocarem suas carruagens, Glauco responde à indagação do rival sobre sua linhagem: expõe então ao inimigo em detalhes de como ele descendia de casa ilustre, como corria sangue puro em suas veias, herdado do sábio Belerofonte, o quanto ele se qualificava para aquele duelo mortal. Um bravo mais do que merecedor de estar ali na liça provocando o famoso Diomedes. (*)
(*) ...se queres ser bem informado acerca do meu nascimento, há uma cidade, Efira, num recanto de Argos, onde se criam cavalos, e ali foi a morada de Sísifo.....Hipoloco foi meu pai. Mandou-me a Tróia e recomendou-me muitas vezes que me destacasse e sobrepujasse os demais, e não envergonhasse a raça do meu pai, a mais valente em Efira e na vasta Lícia. Desta raça e deste sangue eu me orgulho de ser."(Diomedes então, reconhecendo que fora amigo daquela família, confraternizando com Glauco, propõe que eles apertem as mãos e façam uma trégua entre eles)[Canto VI da Ilíada].
A busca da areté, é portanto, um atributo exclusivo do homem de
valor, do que se destaca e ascende entre tantos outros. Na ética
guerreira de Homero não se cogitava que nascidos de ventre ordinário
pudessem almejar tal prêmio. Ao de baixa origem era reservado um destino
anônimo de um figurante sem brilho. Quando a morte o apanhava em meio
ao tumulto da batalha não havia dor nem luto, era um simples ninguém que
jamais seria incluído no Livro dos Heróis. Tudo era diferente quando um
guerreiro invulgar, um notável reconhecido por todos, era abatido.
Por vezes, até o combate cessava em sinal de sincero respeito frente à triste notícia de tamanha perda. Aquiles, em homenagem póstuma a Pátroclo, seu companheiro de aventuras, desaparecido do mundo dos vivos por obra do gládio de Heitor, príncipe de Tróia, decide honrá-lo na cerimônia final de cremação do corpo com jogos e disputas viris. Distribui entre os competidores vencedores, parte considerável do seu patrimônio: "caldeiras, trípodes, cavalos, mulas, bois, belas mulheres, armas e talentos de ouro" (Canto XXIII – Os funerais de Pátroclo).
Alcançar a areté, a virtude que irá imortalizar o guerreiro, não é pois um apanágio de todos eles. O verdadeiro opositor do demandante não é nem nunca foi o homem comum (demiurgói), mas sim um outro seu igual, nobre como ele.
Ainda que pertençam a uma casta especial, tida como a dos melhores homens (aristói), somente uns poucos se qualificarão. Heitor, em seus derradeiros momentos, ao ver que a morte lhe chegava, disse: "Agora, meu destino encontrou-me. Que eu não pereça docilmente, sem bravura e sem glória, mas praticando um grande feito para os ouvidos das gerações que hão de vir" (Canto XXII, 304-5).
Nem o escravo nem aquele que algum dia foi homem de origem ilustre mas tornou-se escravo (pois os deuses removem dele o que lhe restara da areté), poderá sequer sonhar com tal aspiração. Esses pobres estão condenados ao esquecimento.
A vida deles foi-se como uma folha ao vento, sem deixar saudades ou qualquer outra lembrança. É frente aos seus pares que o herói irá colher o "reconhecimento" e o "prestígio" que lhe é devido. Somente ao vitorioso é que poderemos chamar de monarca dos aristocratas. (*)
(*) O tema de haver um duelo primeiro entre iguais que depois, conforme quem vença ou saia derrotado, irão se separar para sempre, um como senhor o outro como escravo, foi exposto por Hegel numa célebre passagem da "Fenomenologia do Espírito" (IV- A – "A independência e dependência da consciência de si: Dominação e Escravidão", editado em de 1807). O vitorioso, por sua vez, dali em diante, como "consciência para si", sempre terá que se mostrar, exibindo-se frente aos seus pares, os vitoriosos de outros duelos, "a outra consciência", para merecer deles o "respeito" e o "reconhecimento".
O que a ética de Homero propõe é o cultivo de um modelo, a do Homem
Perfeito, o Homem de Bronze. Um ser raro que não se guia pela lei comum
nem é obediente ao convencional; é o fora de série que não somente se
sobressai entre os demais como faz ele mesmo as regras que pretende
seguir.
Não são os carneiros balindo em rebanho quem o inspiram, mas sim a solidão altiva do lobo e a bravura o leão. É um herói que, mesmo sem qualquer amparo dos deuses, deve responder sozinho aos desafios que surgem e vingar as desonras que por acaso o submetem. Ele é superior. Recebeu uma herança honrada, de escol, a qual precisa manter imaculada, sem as manchas da covardia e da deserção.(*)
O seu esforço era ampliar o nome herdado por meio de uma fama ainda maior dos que o antecederam. De estatura elevada, de notável vigor físico, belo, destro com as armas e com os cavalos, varonil, ágil e astuto, partilhando os despojos de guerra com os amigos, piedoso para com deuses e implacável para com os inimigos, servia como exemplo a todos.
Devia sempre considerar que era melhor conquistar a celebridade numa só ação, numa proeza impressionante, ainda que correndo perigos mil, do que deixar correr o restante da vida sem um brilho, sem um feito, sem nada.
Preferível viver pouco deixando legenda, como foi o caso de Aquiles, do que muito tempo e não ser ninguém. (**) Todos os demais cavaleiros deviam segui-lo nessa decisão. As gerações que se sucedem teriam sempre o seu nome na lembrança, invocando-o em meio à batalha, inspirando-se nos feitos de outrora.
Essa era a verdadeira imortalidade que um herói poderia almejar. Jamais ele seria apagado da memória dos seus e na de todos os que o sucederão pelas idades ainda por vir.
(*) Nietzsche, filósofo contemporâneo, iria fazer reviver esse ethos aristocrático na construção do super-homem, o que estará "acima do bem e do mal", olhando com desprezo os vencidos e os fracos (ver "Assim Falou Zaratustra", 1883)
(**) "Quem está impregnado de estima própria antes quer viver em breve espaço no mais alto gozo que passar uma longa existência em indolente repouso; prefere viver um ano só por um fim nobre que uma larga vida por nada; escolhe antes escutar uma única ação grande e magnífica, a fazer uma série de pequenas insignificâncias."
O fato de Atenas bem mais tarde ter implantado uma democracia não alterou profundamente a concepção de herói herdada dos tempos da Grécia Arcaica e de domínio aristocrático. Seus dois maiores filósofos, Platão e Aristóteles, educadores do Ocidente, por igual continuaram presos à ética arcaica do valentão nobre e destemido como um ideal a perseguir, sendo que o último a considerou como um norte aplicável à vida dos filósofos.
Muito dela foi, por igual, absorvido pelos atletas olímpicos que mantiveram as pistas de corridas e os saltos de obstáculos como um pacífico substitutivo dos campos de batalha, mantendo ente si os mesmos princípios estabelecidos pelo Código dos Cavaleiros.
Grande parte da retórica democrática continuou influenciada pelos mesmos ideais éticos, de fazer com que também na política os cidadãos seguissem as regras da convivência cavalheiresca, o mesmo acontecendo com os constantes duelos verbais travados entre os homens cultos contidos nos "Diálogos" de Platão ou ainda entre os grandes oradores da cidade.
Na cerimônia em que o filho apresentava seus respeitos para ir acompanhar Agamêmnon e Menelau na missão de resgatar Helena das mãos dos troianos, o pai aconselhou-o "a ser sempre o melhor (aristeuein) e estar acima dos demais".
Que o jovem buscasse através de façanhas inauditas, vir poder exercer a sua virtude (areté). Galgar algo que fosse merecedor do reconhecimento dos seus pares para, com isso, ter assento no reino dos heróis imortais, aqueles que jamais saíam da lembrança dos homens.
- Viver é Combater
O herói grego (esculpido em marfim) |
Nada mais podia vir a interessar um autêntico guerreiro, que para tanto devia ser provido de thymos, o ânimo, impulso que dará início a sua legenda. Tal como um tablado serve para um ator expor seu histrionismo, o campo de batalha serve como um amplo teatro onde, aos olhos dos demais valentes, ele demonstra suas habilidades e virtudes excepcionais; corajoso na refrega, magnânimo na vitória.
O teste definitivo se dava em meio aos gritos lancinantes dos feridos, ao cheiro forte do sangue derramado, do relinchar selvagem dos corcéis, da gritaria geral de fúria, de horror ou de êxtase da soldadesca em meio ao Campo de Marte. O confronto singular era, por assim dizer, o exercício obrigatório que ele devia cumprir na conquista da areté. Viver é Combater!
Ressalte-se que a pugna somente merecerá o registro, só ficará na história e no canto do rapsodo, se ela se der entre os da mesma estirpe: um nobre de linhagem, de sangue aristocrático. É entre leões que se dá a embate. Só um deles merecerá os louros sagrados da vitória. Nenhum valor lhes seria acrescentado à fama enfiar uma lança num peito plebeu, gastar o fio da lâmina num infante qualquer, num anônimo que ninguém sabe de onde veio.
Entre os tantos encontros na arena relatados por Homero ao longo da Ilíada (os que envolvem morte e ferimentos são mais de 140 registros, descritos um a um pelo gênio poético dele), merece a atenção o de Glauco (um jovem guerreiro lício.filho de Anfilioques, que lutava do lado troiano) com o enfurecido Diomedes (filho de Tideo, um espadachim terrível que veio junto com os gregos, e que além da ferocidade natural era protegido pela deusa Atena).
Um pouco antes de chocarem suas carruagens, Glauco responde à indagação do rival sobre sua linhagem: expõe então ao inimigo em detalhes de como ele descendia de casa ilustre, como corria sangue puro em suas veias, herdado do sábio Belerofonte, o quanto ele se qualificava para aquele duelo mortal. Um bravo mais do que merecedor de estar ali na liça provocando o famoso Diomedes. (*)
(*) ...se queres ser bem informado acerca do meu nascimento, há uma cidade, Efira, num recanto de Argos, onde se criam cavalos, e ali foi a morada de Sísifo.....Hipoloco foi meu pai. Mandou-me a Tróia e recomendou-me muitas vezes que me destacasse e sobrepujasse os demais, e não envergonhasse a raça do meu pai, a mais valente em Efira e na vasta Lícia. Desta raça e deste sangue eu me orgulho de ser."(Diomedes então, reconhecendo que fora amigo daquela família, confraternizando com Glauco, propõe que eles apertem as mãos e façam uma trégua entre eles)[Canto VI da Ilíada].
- O homem excelente e o homem vulgar
Diomedes fere Enéas (Canto V da Ilíada) |
Por vezes, até o combate cessava em sinal de sincero respeito frente à triste notícia de tamanha perda. Aquiles, em homenagem póstuma a Pátroclo, seu companheiro de aventuras, desaparecido do mundo dos vivos por obra do gládio de Heitor, príncipe de Tróia, decide honrá-lo na cerimônia final de cremação do corpo com jogos e disputas viris. Distribui entre os competidores vencedores, parte considerável do seu patrimônio: "caldeiras, trípodes, cavalos, mulas, bois, belas mulheres, armas e talentos de ouro" (Canto XXIII – Os funerais de Pátroclo).
Alcançar a areté, a virtude que irá imortalizar o guerreiro, não é pois um apanágio de todos eles. O verdadeiro opositor do demandante não é nem nunca foi o homem comum (demiurgói), mas sim um outro seu igual, nobre como ele.
Ainda que pertençam a uma casta especial, tida como a dos melhores homens (aristói), somente uns poucos se qualificarão. Heitor, em seus derradeiros momentos, ao ver que a morte lhe chegava, disse: "Agora, meu destino encontrou-me. Que eu não pereça docilmente, sem bravura e sem glória, mas praticando um grande feito para os ouvidos das gerações que hão de vir" (Canto XXII, 304-5).
Nem o escravo nem aquele que algum dia foi homem de origem ilustre mas tornou-se escravo (pois os deuses removem dele o que lhe restara da areté), poderá sequer sonhar com tal aspiração. Esses pobres estão condenados ao esquecimento.
A vida deles foi-se como uma folha ao vento, sem deixar saudades ou qualquer outra lembrança. É frente aos seus pares que o herói irá colher o "reconhecimento" e o "prestígio" que lhe é devido. Somente ao vitorioso é que poderemos chamar de monarca dos aristocratas. (*)
(*) O tema de haver um duelo primeiro entre iguais que depois, conforme quem vença ou saia derrotado, irão se separar para sempre, um como senhor o outro como escravo, foi exposto por Hegel numa célebre passagem da "Fenomenologia do Espírito" (IV- A – "A independência e dependência da consciência de si: Dominação e Escravidão", editado em de 1807). O vitorioso, por sua vez, dali em diante, como "consciência para si", sempre terá que se mostrar, exibindo-se frente aos seus pares, os vitoriosos de outros duelos, "a outra consciência", para merecer deles o "respeito" e o "reconhecimento".
- O modelo dos heróis
O herói enfrenta a fera |
Não são os carneiros balindo em rebanho quem o inspiram, mas sim a solidão altiva do lobo e a bravura o leão. É um herói que, mesmo sem qualquer amparo dos deuses, deve responder sozinho aos desafios que surgem e vingar as desonras que por acaso o submetem. Ele é superior. Recebeu uma herança honrada, de escol, a qual precisa manter imaculada, sem as manchas da covardia e da deserção.(*)
O seu esforço era ampliar o nome herdado por meio de uma fama ainda maior dos que o antecederam. De estatura elevada, de notável vigor físico, belo, destro com as armas e com os cavalos, varonil, ágil e astuto, partilhando os despojos de guerra com os amigos, piedoso para com deuses e implacável para com os inimigos, servia como exemplo a todos.
Devia sempre considerar que era melhor conquistar a celebridade numa só ação, numa proeza impressionante, ainda que correndo perigos mil, do que deixar correr o restante da vida sem um brilho, sem um feito, sem nada.
Preferível viver pouco deixando legenda, como foi o caso de Aquiles, do que muito tempo e não ser ninguém. (**) Todos os demais cavaleiros deviam segui-lo nessa decisão. As gerações que se sucedem teriam sempre o seu nome na lembrança, invocando-o em meio à batalha, inspirando-se nos feitos de outrora.
Essa era a verdadeira imortalidade que um herói poderia almejar. Jamais ele seria apagado da memória dos seus e na de todos os que o sucederão pelas idades ainda por vir.
(*) Nietzsche, filósofo contemporâneo, iria fazer reviver esse ethos aristocrático na construção do super-homem, o que estará "acima do bem e do mal", olhando com desprezo os vencidos e os fracos (ver "Assim Falou Zaratustra", 1883)
(**) "Quem está impregnado de estima própria antes quer viver em breve espaço no mais alto gozo que passar uma longa existência em indolente repouso; prefere viver um ano só por um fim nobre que uma larga vida por nada; escolhe antes escutar uma única ação grande e magnífica, a fazer uma série de pequenas insignificâncias."
- Efeitos perduráveis
O fato de Atenas bem mais tarde ter implantado uma democracia não alterou profundamente a concepção de herói herdada dos tempos da Grécia Arcaica e de domínio aristocrático. Seus dois maiores filósofos, Platão e Aristóteles, educadores do Ocidente, por igual continuaram presos à ética arcaica do valentão nobre e destemido como um ideal a perseguir, sendo que o último a considerou como um norte aplicável à vida dos filósofos.
Muito dela foi, por igual, absorvido pelos atletas olímpicos que mantiveram as pistas de corridas e os saltos de obstáculos como um pacífico substitutivo dos campos de batalha, mantendo ente si os mesmos princípios estabelecidos pelo Código dos Cavaleiros.
Grande parte da retórica democrática continuou influenciada pelos mesmos ideais éticos, de fazer com que também na política os cidadãos seguissem as regras da convivência cavalheiresca, o mesmo acontecendo com os constantes duelos verbais travados entre os homens cultos contidos nos "Diálogos" de Platão ou ainda entre os grandes oradores da cidade.
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Ilíada de Homero e sua problemática teórica
A Ilíada, obra atribuída a Homero, conta a história da Guerra de Troia, que teve como figuras importantes os apaixonados Páris e Helena e o guerreiro Aquiles.
Com uma flecha no calcanhar direito, Aquiles cumpriu o destino que os deuses lhe reservaram
A Ilíada é o texto da literatura universal que narra a famosíssima “Guerra de Troia” (Ílion = Troia). Embora bastante conhecido, muitas questões existem em torno da composição, historicidade e até mesmo da relação de tal texto com Homero. Há quem diga que o autor nem existiu, mas que, após séculos de narrativas isoladas, os cantos que compõem o texto tenham sido reunidos sob o nome de Homero, apenas para conferir uma identidade ou autenticidade que privilegia o princípio de autoridade. Ainda se duvida que a guerra tenha acontecido, mas a narrativa tem um fundo histórico, já que é possível a reconstrução de disputas territoriais que visavam à expansão dos gregos para áreas que possuíam jazidas de estanho.
Afora esses dados, a Ilíada tem uma intenção clara e definida:
espelhar o modelo de homem a ser imitado pelo povo grego, além de
fundar a coesão desse mesmo povo. O ideal de Belo e Bom guerreiro,
encarnado no personagem Aquiles, evidencia a necessidade de infundir na
mentalidade coletiva dos Aqueus (um dos povos que formam a cultura
grega) um comportamento a ser imitado, um modelo de homem a ser seguido.
Também a intenção desse artigo é tratar a obra sob o aspecto mitológico
e não histórico. Vejamos como se desenvolve a fábula e o seu
significado.
A guerra teve como motivo o rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de
Esparta, por Páris Alexandre, príncipe de Troia. Esse rapto foi causado
na verdade por influência da deusa Afrodite. Em uma disputa entre as
deusas Hera, Atenas e Afrodite, para saber qual era a mais bela, Páris
foi o juiz e escolheu Afrodite. Por ser a deusa do amor, ela ofereceu
como retribuição o amor da mulher mais bela da Grécia: Helena. Em visita
aos chefes espartanos, os troianos foram recebidos com muita
hospitalidade. Mas a paixão fulminante que afetou Páris e Helena fez com
que fugissem para Troia onde poderiam viver esse amor.
No entanto, essa ação traria desgraça e a queda de Troia, como já
previa Cassandra, irmã de Páris e Heitor, todos filhos do grande rei
troiano Príamo. Já no nascimento de Páris, uma previsão de que ele
traria o fim de Troia fez com que seu pai o mandasse matar, mas, por uma
série de desventuras, ele sobreviveu e voltou ao palácio real.
Entretanto, o rapto de Helena fez com que o rei Menelau reclamasse sua
esposa aos troianos, o que não ocorreu. Com a ofensa, Esparta buscou o
apoio do restante da confederação de cidades-Estados gregas, lideradas
pelo rei de Micenas, Agamemnon, que tinha ambições em relação ao
território troiano. Aliando seus interesses, reuniram uma marinha
incrivelmente numerosa para a guerra. Mas o grande diferencial era a
participação do herói Aquiles.
Aquiles era filho de uma deusa, Tétis, com um mortal. Ao nascer, sua
mãe, prevendo o futuro do filho, lançou-o às águas do mar Estige, que o
tornaria imortal, segurando-o apenas pelo calcanhar, onde, veremos,
ficou vulnerável. Já adulto, foi-lhe revelado que deveria escolher
participar da guerra e morrer ou não ir à Troia e ter uma vida tranquila
e longa. Sua aspiração era a de que seu nome como guerreiro ecoasse
pela eternidade, mesmo que sua vida, dessa forma, fosse curta.
Aquiles também reunia em si as características do herói, como força,
habilidade, velocidade. Em batalha era imbatível. Representava para os
argivos (os soldados Aqueus) uma inspiração no campo de batalha.
Decidido a ir para a batalha, Aquiles juntou-se ao cerco de Troia. Ele
tinha como discípulo o guerreiro Pátroclo, que combateu ao seu lado na
guerra. No pano de fundo da guerra, os deuses favoreciam ora os gregos,
ora os troianos. Vários nomes são destaque na batalha: Nestor, Odisseu,
Ajax, Heitor.
O comandante Agamemnon capturou a bela Criseida, filha de Crisis e
Pitonisa, do templo de Apolo. Aquiles se rebelou com essa prisão, pois
estava encantado pela virgem. Com isso, decidiu se afastar da guerra,
gerando milhares de baixas aos Aqueus. Afastado, ele permitiu que
Pátroclo usasse sua armadura. No campo de batalha, o grande Heitor,
príncipe de Troia, enfrentou-o e matou-o, acreditando se tratar de
Aquiles. Sabendo disso, Aquiles procurou Heitor para um duelo no qual
derrota a grande esperança dos troianos. O sábio rei Príamo lhe reclamou
o corpo para os funerais num gesto bastante corajoso. Mas, ainda
desmotivado pelo episódio de Criseida, Aquiles não voltou à batalha.
Assim, os gregos sofreram revezes, já que não conseguiam penetrar na
fortaleza de Troia em razão dos seus altos muros.
A batalha já durava 10 anos e, querendo voltar para casa, os soldados,
já desanimados, sentiam o estigma da derrota. Até que o astuto Odisseu
teve uma brilhante ideia: além de persuadir Aquiles a voltar para a
batalha, ele propôs usar a madeira das naus para construir um cavalo
gigantesco que seria oferecido aos troianos como presente dos deuses
após a guerra. O Cavalo de Troia, que os troianos levaram para
dentro de sua cidade, guardava no seu interior um batalhão de argivos
que invadiram a cidade e abriram os portões para que a tropa grega
pudesse adentrar e, com isso, derrotar os inimigos.
Nesse episódio final, os aqueus massacraram os troianos, incendiando a
cidade, enquanto Menelau procurava incansavelmente por Helena, que
fugira. Páris foi ferido e morto. Aquiles foi atingido no calcanhar
direito (o vulnerável calcanhar de Aquiles) por uma flecha desferida por
Filolectes e, assim, cumpriu o destino que os deuses lhe reservaram.
Troia foi destruída, Agamemnon apossou-se da terra e, depois de muito
tempo de procura, Menelau encontrou Helena, que, já tendo se casado uma
outra vez, voltou para Esparta. Assim, os soldados puderam, depois da
pilhagem, voltar a seus reinos.
É assim que entendemos a moral do mito: Helena (do grego ELLAS =
Grécia) parece justamente contar a história do surgimento e da formação
do povo grego. E a imagem que se quer transmitir é a do belo e do bom
guerreiro, tal como Aquiles, que preferiu morrer e ser lembrado para
sempre por causa de seus feitos, a viver uma vida longa e medíocre na
paz dos campos de pastoreio.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
FONTE: http://www.brasilescola.com/filosofia/iliada-homero-sua-problematica-teorica.htm
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Poeta catarinense
Cruz e Sousa
24/11/1861 - Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis (SC)
19/03/1898, Sítio (MG)
19/03/1898, Sítio (MG)
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
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João da Cruz e Sousa era Filho de Guilherme da Cruz, mestre pedreiro, e
Carolina Eva da Conceição, lavadeira, ambos negros e escravos,
alforriados por seu senhor, o coronel Guilherme Xavier de Sousa. Do
coronel, o menino João recebeu o último sobrenome e a proteção, tendo
vivido em sua casa como filho de criação.
Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, de 1871 a 1875, onde aprendeu francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. Aos oito anos, já recitava versos seus, em homenagem a seu protetor.
Em 1881, fundou com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornal Colombo, no qual proclamavam adesão à Escola Nova (o Parnasianismo). Nesse mesmo ano, viajou pelo Brasil na Companhia Dramática Julieta dos Santos, na função de ponto. Também realizou conferências abolicionistas em várias capitais.
Em 1884, foi nomeado pelo presidente da província de Santa Catarina, Dr. Francisco Luís da Gama Rosa, Promotor de Laguna, função que não pode assumir, pois a nomeação fora impugnada pelos políticos locais. Publicou "Tropos e Fantasias", em colaboração com Virgílio Várzea.
Partiu para o Rio de Janeiro, em 1888, onde só ficou por oito meses, por não conseguir um trabalho que o sustentasse, mas conheceu Nestor Vítor, que seria seu grande amigo e divulgador de sua obra.
Dois anos mais tarde, voltou para o Rio de Janeiro e passou a colaborar com as revistas "Ilustrada" e "Novidades". No ano seguinte começou a publicar nos jornais: "Folha Popular" e "O Tempo", manifestos simbolistas. Fez parte do grupo "Novos", denominação dos "decadentes" ou simbolistas.
Publicou, em 1893, "Missal" (poemas em prosa) e "Broqueis" (poemas). Com essas obras, consagrou-se como o fundador do Simbolismo brasileiro, por combinar o parnasianismo, o pessimismo, o materialismo à musicalidade simbolista, sob as influências de Baudelaire e Antero de Quental, de quem foi grande leitor.
Casou-se, neste mesmo ano, com Gavita Rosa Gonçalves, com quem teve quatro filhos. Foi nomeado praticante e, posteriormente, arquivista da Central do Brasil. Em 1894, foi diagnosticada a tuberculose que o levou para Sítio (MG), na esperança de uma melhora que não aconteceu. Postumamente, foram lançados seus livros "Evocações" (1898), "Faróis" (1900) e "Últimos Sonetos" (1905), em edições organizadas por Nestor Vítor.
Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, de 1871 a 1875, onde aprendeu francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. Aos oito anos, já recitava versos seus, em homenagem a seu protetor.
Em 1881, fundou com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornal Colombo, no qual proclamavam adesão à Escola Nova (o Parnasianismo). Nesse mesmo ano, viajou pelo Brasil na Companhia Dramática Julieta dos Santos, na função de ponto. Também realizou conferências abolicionistas em várias capitais.
Em 1884, foi nomeado pelo presidente da província de Santa Catarina, Dr. Francisco Luís da Gama Rosa, Promotor de Laguna, função que não pode assumir, pois a nomeação fora impugnada pelos políticos locais. Publicou "Tropos e Fantasias", em colaboração com Virgílio Várzea.
Partiu para o Rio de Janeiro, em 1888, onde só ficou por oito meses, por não conseguir um trabalho que o sustentasse, mas conheceu Nestor Vítor, que seria seu grande amigo e divulgador de sua obra.
Dois anos mais tarde, voltou para o Rio de Janeiro e passou a colaborar com as revistas "Ilustrada" e "Novidades". No ano seguinte começou a publicar nos jornais: "Folha Popular" e "O Tempo", manifestos simbolistas. Fez parte do grupo "Novos", denominação dos "decadentes" ou simbolistas.
Publicou, em 1893, "Missal" (poemas em prosa) e "Broqueis" (poemas). Com essas obras, consagrou-se como o fundador do Simbolismo brasileiro, por combinar o parnasianismo, o pessimismo, o materialismo à musicalidade simbolista, sob as influências de Baudelaire e Antero de Quental, de quem foi grande leitor.
Casou-se, neste mesmo ano, com Gavita Rosa Gonçalves, com quem teve quatro filhos. Foi nomeado praticante e, posteriormente, arquivista da Central do Brasil. Em 1894, foi diagnosticada a tuberculose que o levou para Sítio (MG), na esperança de uma melhora que não aconteceu. Postumamente, foram lançados seus livros "Evocações" (1898), "Faróis" (1900) e "Últimos Sonetos" (1905), em edições organizadas por Nestor Vítor.
CANÇÃO DO BÊBADO
Na lama e na noite triste
Aquele bêbado ri!
Tu’alma velha onde existe?
Quem se recorda de ti?
Por onde andam teus gemidos,
Os teus noctâmbulos ais?
Entre os bêbados perdidos
Quem sabe do teu — jamais?
Por que é que ficas à lua
Contemplativo, a vagar?
Onde a tua noiva nua
Foi tão depressa a enterrar?
Que flores de graça doente
Tua fronte vem florir
Que ficas amargamente
Bêbado, bêbado a rir?
Que vês tu nessas jornadas?
Onde está o teu jardim
E o teu palácio de fadas,
Meu sonâmbulo arlequim?
De onde trazes essa bruma,
Toda essa névoa glacial
De flor de lânguida espuma,
Regada de óleo mortal?
Que soluço extravagante,
Que negro, soturno fel
Põe no teu ser doudejante
A confusão da Babel?
Ah! das lágrimas insanas
Que ao vinho misturas bem,
Que de visões sobre-humanas
Tu'alma e teus olhos tem!
Boca abismada de vinho,
Olhos de pranto a correr,
Bendito seja o carinho
Que já te faça morrer!
Sim! Bendita a cova estreita
Mais larga que o mundo vão,
Que possa conter direita
A noite do teu caixão!
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O POETA MÍSTICO E SANTO ESPANHOL JOÃO DA CRUZ
João da Cruz nasceu em 1542, provavelmente no dia 24 de
Junho, em Fontiveros,
província da cidade de Ávila, em Espanha. Os seus pais chamavam-se Gonzalo de Yepes e Catalina
Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se
casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e
tornou-se tecelão de seda. Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551
transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda
numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado
do diretor do Hospital de Medina
del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas.
Ingressou na Ordem do Carmo aos vinte e um anos de idade, em
1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo.
Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre
1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído
com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua
Primeira Missa. No entanto, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida
monástica em que viviam os Conventos Carmelitas.
Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual
poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em
Setembro de 1567 encontra-se com Santa
Teresa de Ávila, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da
Ordem Carmelita também aos padres, surgindo posteriormente os carmelitas descalços. O jovem de apenas vinte
e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No
dia 28 de Novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia,
inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou
ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito
meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de
sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor
da "Noite escura da alma", da "Subida ao Monte
Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama
de amor viva".
VELHO VENTO
Velho vento vagabundo!
No teu rosnar sonolento
Leva ao longe este lamento,
Além do escárnio do mundo.
Tu que erras dos campanários
Nas grandes torres tristonhas
E és o fantasma que sonhas
Pelos bosques solitários.
Tu que vens lá de tão longe
Com o teu bordão das jornadas
Rezando pelas estradas
Sombrias rezas de monge.
Tu que soltas pesadelos
Nos campos e nas florestas
E fazes, por noites mestas,
Arrepiar os cabelos.
Tu que contas velhas lendas
Nas harpas da tempestade,
Viajas na Imensidade,
Caminhas todas as sendas.
Tu que sabes mil segredos,
Mistérios negros, atrozes
E formas as dúbias vozes
Dos soturnos arvoredos.
Que tornas o mar sanhudo,
Implacável, formidando,
As brutas trompas soprando
Sob um céu trevoso e mudo.
Que penetras velhas portas,
Atravessando por frinchas...
E sopras, zargunchas, guinchas
Nas ermas aldeias mortas.
Que ao luar, pelos engenhos,
Nos miseráveis casebres
Espalhas frios e febres
Com teus aspectos ferrenhos.
Que soluças nos zimbórios
Os teus felinos queixumes,
Uivando nos altos cumes
Dos montes verdes e flóreos.
Que te desprendes no espaço
Perdido no estranho rumo
Por entre visões de fumo,
Das estrelas no regaço.
Que de Réquiens e surdinas
E de hieróglifos secretos
Enches os lagos quietos
Revestidos de neblinas.
Que ruges, brames, trovejas
Ó velho vândalo amargo,
No sonâmbulo letargo
De um mocho rondando igrejas.
Que falas também baixinho
Lá da origem do mistério,
Trazendo o augúrio sidéreo
E certa voz de carinho...
Que nas ruas mais escusas,
Por tardes de nuvens feias,
Como um ébrio cambaleias
Rosnando pragas confusas.
Que és o boêmio maldito,
O renegado boêmio,
Em tudo o turvo irmão gêmeo
Do sonhador Infinito.
Que és como louco das praças
Nos seus gritos delirantes
Clamando a pulmões possantes
Todo o Inferno das desgraças.
Que lembras dragões convulsos,
Bufantes, aéreos, soltos,
Noctambulando revoltos
Mordendo as caudas e os pulsos.
Ó velho vento saudoso,
Velho vento compassivo,
Ó ser vulcânico e vivo,
Taciturno e tormentoso!
Alma de ânsias e de brados,
Consolador companheiro
Sinistro deus forasteiro
D'espaços ilimitados!
Tu que andas, além, perdido,
Tateando na esfera imensa
Como um cego de nascença
Nos desertos esquecido...
Que gozas toda a paragem,
Toda a região mais diversa,
Levando sempre dispersa
A tua queixa selvagem.
Que no trágico abandono,
No tédio das grandes horas
Desoladamente choras,
Sem fadigas e sem sono.
Que lembras nos teus clamores,
Nas fúrias negras, dantescas,
Torturas medievalescas
Dos ímpios inquisidores.
Que és sempre a ronda das casas,
A gemente sentinela
Que tudo desgrenha e gela
Com o torvo rumor das asas.
Que pareces hordas e hordas
De hirsutos, intonsos bardos
Vibrando cânticos tardos
Por liras de cem mil cordas.
Ó vento lânguido e vago,
Ó fantasista das brumas,
Sopro equóreo das espumas,
Ó dá-me o teu grande afago!
Que a tua sombra me envolva
Que o teu vulto me console
E o meu Sentimento role
E nos astros se dissolva...
Que eu me liberte das ânsias
De ansiedades me liberte,
Pairando no espasmo inerte
Das mais longínquas distâncias.
Eu quero perder-me a fundo
No teu segredo nevoento,
Ó velho e velado vento,
Velho vento vagabundo!
POEMA DE JOÃO DA CRUZ.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
UNILIVRE – CURITIBA
Um lugar encantador que tive a oportunidade de conhecer. Como muitos dos
parques de Curitiba a UNILIVRE trás o contato com a natureza. Para mim
foi como fugir deste mundo urbana, cheiro de poluição sonora para um
pedacinho do céu...
UNILIVRE
- Universidade Livre do Meio Ambiente, é uma Organização
Não-Governamental pioneira na inclusão dos vários segmentos da sociedade
na discussão sobre o meio ambiente.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
segunda-feira, 9 de março de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
A Calçada dos Gigantes - Irlanda do Norte
Na costa setentrional do planalto de Antrim, na Irlanda do Norte,
milhares de colunas resultantes do arrefecimento sa lavas basálticas
foram truncadas pelas ondas. Lembrando um empedramento escuro e pesado,
elas formam a Calçada dos Gigantes.
CURIOSIDADE - VOCÊ SABE O QUE UM PALÍNDROMO?
domingo, 23 de agosto de 2009
Um palíndromo, é uma palavra, frase (anacíclicas) ou um número (capicua) que se lê da mesma maneira nos dois sentidos normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.
Exemplos: OVO, OSSO, RADAR, OMO.
O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido:
SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS.
Diante do interesse pelo assunto (confesse, você leu a frase de tras pra frente, só para conferir), selecionei alguns dos palíndromos mais conhecidos da língua de Camões...
A CARA RAJADA DA JARARACA
A RITA, SOBRE VOVÔ, VERBOS ATIRA.
ANOTARAM A DATA DA MARATONA
ASSIM A AIA IA A MISSA
A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA
A DROGA DA GORDA
A MALA NADA NA LAMA
A TORRE DA DERROTA
LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL
O CÉU SUECO
O GALO AMA O LAGO
O LOBO AMA O BOLO
O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO
RIR, O BREVE VERBO RIR
SAIRAM O TIO E OITO MARIAS
ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ
TRÊS GRANDES MULHERES DA HISTÓRIA
COMO HOMENAGEM ÀS MULHERES COLOCAMOS AQUI TRÊS INCRÍVEIS, MARCANTES,
CULTAS E INTELIGENTES MULHERES QUE FIZERAM E MARCARAM A HISTÓRIA DA
HUMANIDADE, APESAR DE SEREM POUCO CONHECIDAS. A PRIMEIRA É ASPÁSIA,
FILÓSOFA E GRANDE INTELECTUAL DA GRÉCIA DE PÉRICLES (SÉC.V A.C.);
A SEGUNDA É A EGÍPCIA HIPÁTIA (370 D.C. - 415 D.C.), FILÓSOFA, MATEMÁTICA,
ASTRÔNOMA E EXÍMIA PESQUISADORA. UMA DAS MAIS RARAS PESSOAS,
NO MUNDO ANTIGO, QUE DEFENDIA O HELIOCENTRISMO; A TERCEIRA E ÚLTIMA
É A FRANCESA OLYMPE DE GOUGES (1748 - 1793), PRIMEIRA MULHER A DEFENDER
OS DIREITOS DE IGUALDADE ENTRE TODOS, MULHERES E HOMENS.
ASPÁSIA (SÉC. V A.C.)
Ao escrever sobre Aspásia (meados do século V a.C.), mais de 2 mil anos após sua morte, o presidente americano John Adams (1735-1826) afirmou: ”Gostaria que alguns de nossos homens mais proeminentes tivessem esposas assim”. Aspásia viveu em uma das eras mais grandiosas da história do mundo, quando as civilizações clássicas floresceram na Grécia e Roma antigas. Conseguimos lembrar de diversos homens famosos desse período, como os filósofos Sócrates (470?-399 a.C.), Platão (427?-347 a.C.) e o dramaturgo Eurípedes (484-406 a.C.). Entretanto, muito pouco se registrou sobre as mulheres da época, porque elas eram em geral, relegadas aos papéis de escravas, cortesãs ou esposas, sendo confinadas ao lar e excluídas da participação na vida pública.
Aspásia, que nasceu em Mileto, na região leste da Grécia, chegou a Atenas por volta de 450 a.C. Como vinha de fora, por lei, não podia se casar; tornou-se então, uma das mulheres do grupo conhecido como hetera – mulheres de excelente educação e que, por serem solteiras, tinham liberdade para estudar, assistir a palestras e até participar de debates com homens.
Conhecida por sua genialidade e grande beleza. Aspásia abriu uma escola de filosofia e retórica. Em pouco tempo, sua casa de transformou em um dos salões mais importantes de Atenas, freqüentada pelos estudiosos, políticos e artistas que mais se destacavam na época, inclusive por Platão, que afirmou que ela havia lhe ensinado a teoria do amor, e Sócrates, que disse ter sido ela que lhe ensinou a arte da eloqüência. Também freqüentava a casa de Aspásia, o juiz mais importante de Atenas, Péricles (495-429 a.C). Durante seus 30 anos de governo, período que posteriormente ficou conhecido como a era Péricles, Atenas se tornou um estado democrático e reinou como centro intelectual e artístico do país.
Péricles se apaixonou por Aspásia, mas como ela não era natural de Atenas, e conseqüentemente não podia se tornar sua esposa legal, ele se divorciou de sua esposa e a fez sua consorte. A partir de então, Aspásia tornou-se sua conselheira política e confidente, apoiando-o em sua luta contra a aristocracia em prol do estabelecimento da democracia. Alguns historiadores a consideram responsável pela desastrosa Guerra da Peloponeso (431 a.C.), que teria sido declarada por Péricles devido à sua insistência. Outros atribuem a ela a redação do eloqüente discurso feito por Péricles a suas tropas ao final da guerra. Aspásia também o convenceu a mudar as leis que restringiam os papéis das mulheres na sociedade grega.
Após a morte de seus dois
filhos com sua primeira mulher, Péricles sancionou uma lei tornando seu filho
com Aspásia, também chamado Péricles, cidadão ateniense. Mais tarde, o jovem
Péricles se tornou general do exército. Impossibilitados de criticar Péricles
diretamente, os atenienses, que se ressentiam do seu relacionamento com Aspásia
a acusaram de faltar ao respeito para com os deuses. Depois da defesa veemente
e lacrimosa de Péricles, Aspásia foi considerada inocente.
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Hipátia de Alexandria (370 D.C. - 415 D.C.)
deldebbio | 15 de fevereiro de 2010
Quando
tive a idéia de escrever sobre a vida das Grandes Mulheres do Passado a
primeira personagem real que me veio à cabeça foi Hipátia de Alexandria. Me
lembro do dia que li sobre ela em um de meus livros relacionado ao Império
Romano. Havia apenas um pequeno parágrafo… a sensação que passava era de que só
estava ali para preencher espaço e dizia apenas: Hipátia de Alexandria,
matemática e filósofa, foi diretora da Academia de Alexandria (Biblioteca de
Alexandria) e morreu em 415. Nada mais, apenas essa curta frase, porém foi o
suficiente para despertar em mim a curiosidade. Afinal, quem fora essa mulher
que não só fora matemática e filósofa numa época impensável para as mulheres
exercerem tais funções, como chegou a ser diretora de uma das maiores escolas
da antiguidade?! Dali para frente procurei pesquisar tudo o que podia.
Infelizmente não nos chegou muito sobre a vida dessa Grande Mulher, mas o que
temos vale como lição para se carregar para sempre.
Hipátia nasceu em Alexandria por volta do ano 370 D.C. Para aqueles que não lembram, Alexandria é uma cidade do Egito e foi fundada por Alexandre da Macedônia, popularmente conhecido como Alexandre, O Grande.
Hipátia nasceu em Alexandria por volta do ano 370 D.C. Para aqueles que não lembram, Alexandria é uma cidade do Egito e foi fundada por Alexandre da Macedônia, popularmente conhecido como Alexandre, O Grande.
Na
antiguidade Alexandria foi um grande pólo de cultura e livre expressão, mas, na
época em que Hipátia nasceu, a cidade encontrava-se em uma disputa entre a
Igreja Católica, que crescia em poder rapidamente, e as correntes filosóficas
que punham em cheque as doutrinas da nova religião.
Filha de
Theon, filósofo, matemático e astrônomo, diretor do Museu de Alexandria;
Hipátia creceu em um ambiente cercado de cultura sendo guiada por seu pai nos
estudos da Matemática e Filosofia. Ele acreditava no ideal grego da “mente sã
em um corpo sadio” (“men sana in corpore sano”) estimulando a filha a exercitar
tanto a mente como o corpo, contam as lendas que ele desejava torna-la “um ser
perfeito”.
Ainda
jovem viajou a Atenas para complementar seus estudos. Era conhecida na Grécia
como “A Filósofa”, já demonstrando cedo sua profunda sabedoria. Sócrates
Escolástico relata:
“Havia em
Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas
realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu
tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os
princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber
seus ensinamentos.”
Ainda em
Atenas tornou-se discípula de Plutarco e professava ensinamentos Neoplatônicos.
Ao retornar a sua pátria, foi convidada para assumir uma cadeira na Academia de
Alexandria como professora. Por volta dos 30 anos, tornou-se diretora da
Academia. Seus conhecimentos abrangiam a Filosofia, a Matemática, Astronomia,
Religião, poesia e artes. Era versada em oratória e retórica. Escreveu diversos
livros e tratados sobre álgebra e aritmética. Seu interesse por mecânica e
tecnologia a levaram a conceber instrumentos utilizados na Física e na
Astronomia, como o astrolábio plano, o planisfério e um hidrômetro.
Infelizmente suas obras foram perdidas durante o incêndio que destruiu a
Biblioteca de Alexandria. Tudo o que chegou-nos vem através de suas
correspondências. Um de seus alunos Hesíquio o hebreu, escreveu:
“Vestida
com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava
publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a
todos os que a quisessem ouvi-la… Os magistrados costumavam consulta-la em
primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.
Hipátia
foi uma Grande Mulher que nasceu na época errada. Sua defesa fervorosa ao livre
pensamento, seus ensinamentos Neoplatônicos, sua observação de que o universo
era regido pela leis da matemática a caracterizaram como herege em um momento
onde o Cristianismo triunfava sobre o Paganismo. Enquanto Orestes, um ex-aluno,
fora prefeito da cidade, sua vida estivera protegida. Mas quando Cirilo
tornou-se bispo de Alexandria, determinado a destruir todo o movimento pagão,
sua morte foi anunciada.
Em uma
tarde de 415 D.C. retornando a sua casa, Hipátia foi abordada por uma turba de
cristãos furiosos que a arrancaram de sua carruagem, arrastaram-na para uma
igreja e lá rasgaram-lhe as roupas deixando-a completamente nua e assim
puseram-se a retalhar seu corpo esfolando-lhe a carne de seus ossos utilizando
para isso cascas de ostras afiadas. Por fim desmembraram-lhe o corpo e os
atiraram as chamas.
Morria
com ela toda uma era de liberdade e florescimento filosófico e cultural em
Alexandria e certamente para todos que viviam sobre a espada afiada da nova
religião.
Carl
Sagan escreveu em seu livro Cosmos:
“Há cerca
de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história,
e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela
decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia.
Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel,
com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e
conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio
romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída.
Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte
queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e
filosófico da época.”
Essa
Grande Mulher nutriu toda uma época com a luz do conhecimento e do saber.
Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do
esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória
de todos os famintos pela verdade. Hipátia retorna forte e vibrante ao alcance
daqueles que buscam por seus ensinamentos. Ainda há pouco, enquanto terminava
minha última pesquisa para esse artigo, me deparei com a notícia de que o
diretor Alejandro Amenábar recentemente lançou no festival de Cannes o filme
Ágora, que conta ao mundo a vida de Hipátia de Alexandria.
ttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hipátia
http://www.librarising.com/spirituality/hypatia.html
http://sexoforte.net/mulher/index.php?option=com_content&view=article&id=219:hipacia-de-alexandria-o-direito-de-pensar&catid=79:grandes-mulheres&Itemid=113
http://www.librarising.com/spirituality/hypatia.html
http://sexoforte.net/mulher/index.php?option=com_content&view=article&id=219:hipacia-de-alexandria-o-direito-de-pensar&catid=79:grandes-mulheres&Itemid=113
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OLYMPE DE GOUGES,
A PIONEIRA DOS DIREITOS DE IGUALDADE
Colocamos dois pequenos artigos
que falam um pouco sobre Olympe de Gaouges (1748 - 1793. Uma
grande mulher que estava muito a frente de seu tempo, apesar de viver
em um momento histórico bastante especial, a Revolução Francesa.
Olympe foi incompreendida por defender direitos iguais entre mulheres
e homens. Pioneira nesta luta. Mas, mesmo com os lemas da Revolução
que eram, a igualdade,a liberdade e a fraternidade, a intolerância
aos direitos femininos imperava, a ponto dela ser guilhotinada
com 45 anos de idade.
http://observatoriodamulher.org.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=45&Itemid=146
Olympe
de Gouges (1748 - 1793)
|
|
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http://www.historia.uff.br/nec/materia/grandes-processos/olympe-de-gouges-mulheres-e-revolu%C3%A7%C3%A3o
Olympe de Gouges: as mulheres e a revolução
|
A cidade francesa de Montauban fica localizada no sul da França na região
dos Médio-Pirineus. É local natal de personagens ilustres, como o do grande
retratista do século XIX Jean-Auguste-Dominique Ingres, do revolucionário Jean
Bon Saint-André e da ainda “anônima” Marie Gouze.
Nascida em 1748, Marie Gouze vivia envolta na atmosfera feudal,
nos costumes patriarcais e no velho paradigma que caracterizavam as relações
sociais. Filha de uma família modesta, casou-se cedo com apenas dezesseis anos
com um homem bem mais velho, tornando-se mãe e ficando viúva logo em seguida.
Esta poderia ser uma história como de tantas outras mulheres da época, mas o
que diferencia Marie Gouze das outras mulheres? Que destino aguardava essa
ilustre mulher? A diferença fundamental é que para ela o fato de viver fadada
aos infortúnios de uma vida regrada e submissa aos padrões da época haveria de
ser mudado. Seu pensamento ganhará corpo não só porque era revolucionário em
sua concepção, mas porque será pronunciado num tempo onde suas questões terão
terreno para se desenvolver. Marie Gouze nasceu num século de intensas
transformações.
Muda-se para Paris, pois queria se tornar uma mulher das letras, abandonando
quaisquer resquícios do Antigo Regime que poderiam tolhê-la e obrigá-la a viver
de um modo pré-determinado. Passa então a se opor ao casamento, inclusive recusando-se
a casar com o grande amor de sua vida, Jacques Bietrix de Rozière, mesmo
sabendo que ficaria rica se o fizesse. Suas ações inovadoras indicam uma
verdadeira virada de valores que até então estavam enraizados na sociedade.
Ações tão radicais que culminam na mudança do seu nome para Olympe de Gouges,
como ficaria eternamente conhecida. Freqüentando os salões parisienses de arte,
ela conhece os maiores nomes da literatura e da filosofia francesa. É uma
mulher independente, preocupada com as mais diversas causas, como a emancipação
das mulheres, a instituição do divórcio, a abolição dos escravos e a criação de
um teatro para a dramaturgia feminina. Escreve 30 peças teatrais e seu primeiro
trabalho é lido na Comédia Francesa, porém jamais é montado.
Nos turbulentos dias do ano de 1788, a Assembléia dos Três
Estados, que culminaria na Revolução Francesa, foi convocada. Olympe de Gouges,
aos quarenta anos, faz-se presente. Disposta e consciente do seu papel naquele
processo, sua vida passaria a ser marcada pela política e pelas leis. A
Revolução Francesa, além de um marco na história mundial, foi decisiva na
história das mulheres. Propondo os ideais de igualdade entre os indivíduos, ela
pôs em questão as relações entre os sexos, abordando o lugar de direito da
mulher na sociedade. Entretanto, esse lugar não seria concedido, pois até mesmo
os líderes revolucionários, seguindo as mesmas opiniões dos
contra-revolucionários, defendiam a manutenção do papel social da mulher. Agiam
contra os próprios ideais libertários da Revolução e lutavam para que as
mulheres “permanecessem em seu lugar”: o ambiente doméstico e a vida privada.
Temiam que as mulheres invadissem o território masculino dos direitos, da vida
pública e da superioridade na hierarquia dos sexos. Numa época onde as leis
eram criadas por homens, as mulheres começam a tomar consciência histórica de
sua cidadania e a enxergar a possibilidade de romper as correntes repressivas
que as deixavam em posição de submissão e inferioridade aos homens. A mulher era
agora civil, política, e exigente do seu lugar na cidade, segundo os direitos
que a Revolução lhe dera. Entretanto, essa liberdade era limitada.
Olympe de Gouges não abandonou sua vida em Montauban para presenciar tais
acontecimentos e ficar inerte. Muito pelo contrário, para ela a tirania dos
homens deveria ser combatida pela militância das mulheres contra as injustiças
masculinas: uma guerra entre ambos. Numa sociedade marcada pela distinção entre
os sexos, ela via na Revolução um agente transformador que escancarava a
exploração da mulher pelo homem e, definitivamente, o momento para a
mobilização das mulheres contra tais “atrocidades”. Era hora de suprimir os
discursos naturalistas que atribuíam as qualidades do pensamento ao homem e à
mulher a sensibilidade, o coração e a família – aos homens a esfera pública e
às mulheres a vida privada, observada e controlada pelos “chefes da casa”.
Em 1791 Olympe de Gouges escreve o panfleto Declaração dos
direitos da mulher e da cidadã, um modelo explicitamente feminizado e
provocador da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Nele ela
conclama as mulheres à ação – “Ó, mulheres! Mulheres, quando deixareis vós de
ser cegas?”, numa crítica visceral à desigualdade entre os sexos, visto que a
exclusão imposta a elas pouco condiz com a declaração de 89. A inserção da
mulher em condições de igualdade, tanto de direitos como de deveres, na vida
política e civil do país torna-se essencial para ela.
Olympe de Gouges foi a primeira mulher a lançar-se na arena pública, onde
também pôs em prática as suas teorias: ela reivindica os mesmos direitos que os
homens, ela correrá os mesmos riscos que eles e lutará para ter as mesmas
obrigações. Assume as suas opiniões, através das suas peças de teatro, dos seus
panfletos, dos seus cartazes. Denuncia os abusos do Antigo Regime, assim como
os do novo, e luta incessantemente pela liberdade, pela justiça, pelos fracos,
os oprimidos, as mulheres, mas também os negros, as mães solteiras, os filhos
fora do casamento, as prostitutas, os desempregados — sugerindo a criação de
oficinas nacionais para empregá-los.
Com o clima do Terror instaurado pelos revolucionários, seus ideais
libertários sofrem ameaças. Girondina e revoltada com o Terror, ela ataca
duramente Marat e Robespierre, que passam a considerá-la "perigosa
demais". Denunciada pelo seu afixador de cartazes, é presa na Ponte
Saint-Michel e imediatamente encarcerada. Do fundo da sua masmorra, ainda
consegue fazer afixar em Paris um último panfleto descrevendo as condições em
que está presa e a garantir a sua inocência. Em vão. Em 2 de Novembro de 1793,
às sete da manhã, é julgada e condenada à morte pelo Tribunal Revolucionário.
Foi-lhe recusado um advogado. No dia seguinte, ela sobe ao cadafalso. Antes de
morrer, afirmaria: "A mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve
ter igualmente o direito de subir à tribuna."
Cronologia da vida de Olympe de Gouges:
- 1748: Nasce na cidade francesa de Montauban.
- 1788: Convocação da Assembléia dos Estados Gerais
- 1791: Escreve o panfleto Declaração dos direitos da mulher e da cidadã.
- 1793: É executada.
Bibliografia de referência:
- SLEDZIEWSKI, Élisabeth G. Revolução Francesa. A viragem. IN: História das Mulheres no Ocidente. (Michele Perrot e George Duby, org.), Vol. 4. Porto. Edições Afrontamento, 1991.
- HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. 19ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.
- PERROT, Michelle. Mulheres. IN: Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988.
- PERROT, Michele (org.). História da vida privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
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LITERATURA
Manuel Bandeira foi um representante do Modernismo brasileiro
Manuel Carneiro de Souza Bandeira nasceu em 1886, em Recife. Em 1890
sua família se transferiu para Petrópolis (RJ), e aos seis anos de idade
Bandeira regressou à cidade de Recife, por lá permanecendo até os dez
anos. De volta ao Rio, cursou o ginásio, no Colégio Dom Pedro II.
Com 16 anos partiu para São Paulo no intento de cursar a faculdade de
Arquitetura na Escola Politécnica, porém, ao contrair tuberculose,
precisou interromper sues estudos. Assim, retornou ao Rio de Janeiro à
procura de cidades que oferecessem um clima mais propício à cura da
doença que o acometera, mas em 1913 foi internado no Sanatório de
Clavadel, ficando lá por 16 meses.
Em 1917 publicou seu primeiro livro, “A cinza das horas”. A partir de
então deu continuidade à sua produção literária, publicando outra obra
em 1919, dessa vez, “Carnaval”. Passando a estabelecer contato com o
grupo paulista que participara da Semana de Arte Moderna, conheceu
Guilherme de Almeida, responsável por indicar suas obras aos demais. A
participação do autor no evento em questão foi de forma indireta, mesmo
porque decidiu não criticar publicamente aqueles que consideravam os
mestres parnasianos e simbolistas, razão pela qual jamais abandonara o
lirismo. Nem tampouco se juntara com veemência àqueles adeptos do tom
revolucionário, proposto pelos modernistas natos. Dessa forma, podemos
afirmar que suas criações são revestidas por apenas ligeiros aspectos
modernistas, como a habilidade de abordar temas cotidianos e a liberdade
de expressão, manifestada pelo uso de versos livres.
Permanecendo no Rio de Janeiro, além de dar continuidade à sua hábil
carreira de artista, tornou-se professor de Literatura no Colégio onde
estudou (Dom Pedro II). Em 1940 foi eleito para a Academia Brasileira de
Letras. Faleceu em 1968, naquela mesma cidade.
Em virtude de ter se formado com base nas referências literárias do
Parnasianismo e Simbolismo, Bandeira não se mostrou preocupado em se
adequar a esta ou àquela tendência, mas sim em proferir de maneira
magistral as emoções que desejava transmitir por meio de suas criações.
Assim sendo, podemos afirmar que sua criação se subdivide em três
vertentes básicas:
A fase pós-simbolista, na qual deixa escapar traços
ainda ligados ao espírito decadentista do Simbolismo, como também à
musicalidade formal. Vejamos, pois, uma criação que bem retrata tais
aspectos:
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
A fase modernista, na qual ele “direciona” seus versos
para uma linguagem envolta por um tom coloquialista (fazendo uso dos
versos livres e brancos). Constatemos outro exemplo:
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
A fase pós-modernista, na qual ele faz uma espécie de
mesclagem entre o uso dos versos rimados e tradicionais com o uso de
versos livres e brancos, bem como as formas populares, como o rondó –
caracterizado por um poema com apenas duas rimas e formado de três
estrofes, totalizando quinze versos. Constatemos, portanto, um exemplo:
Rondó dos Cavalinhos
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!
Em todas as fases aqui retratadas há ainda aspectos dignos de menção,
entre os quais o fato de nelas prevalecerem três temas dos quais o poeta
fez constante uso: a infância, o amor e a morte.
Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Biobibliografia de Luís Vaz de Camões
Ano Vida de Camões
Época
1524/ Nasce
Luís de Camões.
Lutero prossegue a pregação na
Alemanha
/1525 e na Suíça.
Vasco da gama adoece e morre.
1538 Em Coimbra poderá ter adquirido uma
grande parte da sua cultura
humanística.
1541 Julga-se em Lisboa.
1542
Nascimento de Diogo de Couto.
1547 Terá sido desterrado para Constança, por
ter ousado apaixonar-se por uma dama da
nobreza.
1549 Parte como soldado para Ceuta, onde
perdeu em combate o olho direito.
1551 É preso por ter ferido Gonçalo Borges
numa rixa de rua.
1552 Camões embarca para a Índia.
1555 Camões encontra-se na Índia.
1557
Morte de D. João III.
Portugueses fixam-se em Macau.
1558 Com 33 anos, Camões perde tudo num
naufrágio, salvando o manuscrito
d’Os
Lusíadas.
1559 Camões chega a Goa.
1562 Preso por dividas é libertado por ordem do
vice-rei Francisco Coutinho.
1567 Está em Moçambique a trabalhar na revisão
do texto d’Os Lusíadas e na composição
da
obra “Parnaso
de Luís de Camões”, que mais
tarde lhe
terá sido roubada.
1569 Embarca para Lisboa: os amigos pagam-lhe
a passagem e uma divida, dão-lhe de
comer
e de
vestir.
1570 Dedica-se à impressão d’os Lusíadas.
1572 Publicação de Os Lusíadas em Lisboa.
D.
Sebastião atribui-lhe uma tença anual de
15 mil
réis.
1580 Morre a 10 de Junho.
Obras de Camões:
- Três peças de teatro
- “Auto
dos Anfitriões”
- “Auto El-rei Seleuco”
- “Auto do Filodemo”
- Vários Poemas Líricos
Redondilha menor – Vasos de 5 sílabas
- Medida velha
(corrente tradicional) Redondilha Maior – Vasos de 7
sílabas
-Medida Nova Sonetos
(corrente Renascentista)
- Quatro Cartas
- Uma de Ceuta;
- Uma da Índia;
- Duas de Lisboa.
Análise
d’Os Lusíadas
Os Lusíadas são constituídos por:
- Estrutura Externa
-10 Cantos
(Chama-se canto porque a obra está escrita em verso)
-Cada canto tem
entre 110 a
120 estrofes fazendo um total de 1102 estrofes em toda a epopeia.
-Cada canto/estância
tem 8 versos
-Cada verso tem
10 sílabas, que obedecem ao esquema rimático “abababcc” (rimas cruzadas, nos
seis primeiros versos, e emparelhada, nos dois últimos).
- Estrutura Interna
(4 Partes)
-Proposição
-Invocação
-Dedicatória
-Narração
(4 Planos)
- A viagem de
Vasco da Gama;
- A História de
Portugal desde o seu início;
- Intervenção
dos Deuses;
- Considerações
do poeta.
A
acção central d’Os Lusíadas A descoberta do caminho marítimo para a
Índia.
Os Lusíadas contam:
- A viagem de Vasco da Gama, de descoberta do caminho marítimo para a Índia;
- A morte de Inês de Castro;
- A batalha de Aljubarrota;
- A formação de Portugal com a acção de Afonso Henriques;
- A batalha com o Adamastor;
- Os amores de Pedro e Inês.
São personagens d’Os Lusíadas:
- Vasco da Gama;
- Júpiter;
- Inês de Castro;
- Vénus;
- Adamastor;
- Rei de Melinde;
- Baco.
Os Lusíadas são uma narrativa
épica porque:
·
Relatam a História, ou seja, uma
acção épica de grande heroísmo e um assunto ilustre, solene e intrinsecamente relacionado
com um acontecimento Histórico e bélico;
·
Contam com um herói Vasco da Gama é a personagem principal, mas
é um herói colectivo, pois representa os portugueses em geral;
·
A unidade de acção começa “in
média rés”;
·
Existem episódios variados que,
não anulando a unidade de acção, enriquecem e dão extensão à epopeia;
·
Intervenção de o maravilhoso
(figuras divinas);
·
A estrutura interna tem três ou
quatro partes( a dedicatória é facultativa);
·
Está no modo narrativo;
·
Existe uma intervenção reduzida do
poeta;
·
O tom e o estilo grandíloquo e
solene é adequado ao tema;
·
O verso é decassílabo.
Influências:
·
Renascimento Adopção e valorização das
formas artísticas Greco-Latinas e a assimilação do espírito que lhes subjaz;
·
Humanísmo Parte do estudo da cultura antiga,
valorizando tudo o que é humano e exaltando os valores do Homem como centro do
universo. Relaciona.se intimamente, portanto, com o antropocêntrismo;
·
Classicísmo Estética que estabeleçe um rigoroso
sistema de regras dos vários géneros literários.
Fontes:
- Históricas crónicas;
- Literárias Odisseia de Homero e Elidia
- Ciêntificas Tratados de geografia, astronomia (…) para elaborar um plano da viagem.
Segue abaixo dois sonetos do genial poeta lusitano e um poema.
Breve colocaremos outros sonetos deste avatar literário.
Amor é fogo que arde sem se ver Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer; É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís de Camões
Verdes são os campos Verdes são os campos, De cor de limão: Assim são os olhos Do meu coração. Campo, que te estendes Com verdura bela; Ovelhas, que nela Vosso pasto tendes, De ervas vos mantendes Que traz o Verão, E eu das lembranças Do meu coração. Gados que pasceis Com contentamento, Vosso mantimento Não no entendereis; Isso que comeis Não são ervas, não: São graças dos olhos Do meu coração. Luís de Camões
Transforma-se o amador na cousa amada Transforma-se o amador na cousa amada, Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sómente pode descansar, Pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim co'a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; [E] o vivo e puro amor de que sou feito, Como matéria simples busca a forma.
Luís de Camões
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