Cultura e Arte

 

Homero: o primeiro grande poeta grego




Homero foi o primeiro grande poeta grego cuja a obra chegou até nós. Teria vivido no século VIII a.C., período coincidente com o ressurgimento da escrita na Grécia. Consagrou o gênero épico com as obras Ilíada e Odisséia.

Além destas, mas sem respaldo histórico ou literário, são a ele atribuídas as obras Margites, poema cômico a respeito de um herói trapalhão; a Batracomiomaquia, paródia burlesca da Ilíada que relata uma guerra fantástica entre ratos e rãs, e os Hinos homéricos.
É muito citado entre os estudiosos da ética dos gregos, o registro feito por Homero do testemunho do velho Nestor, o único idoso e sábio que acompanha os aqueus no sítio que moviam à cidade de Tróia, (Canto XI da Ilíada), relatando um encontro que ele assistira um tanto antes da guerra, no palácio do rei Peleu, o pai de Aquiles.
Na cerimônia em que o filho apresentava seus respeitos para ir acompanhar Agamêmnon e Menelau na missão de resgatar Helena das mãos dos troianos, o pai aconselhou-o "a ser sempre o melhor (aristeuein) e estar acima dos demais".
Que o jovem buscasse através de façanhas inauditas, vir poder exercer a sua virtude (areté). Galgar algo que fosse merecedor do reconhecimento dos seus pares para, com isso, ter assento no reino dos heróis imortais, aqueles que jamais saíam da lembrança dos homens.

  • Viver é Combater
O herói grego
(esculpido em marfim
)
Aquela exortação do pai orgulhoso a um filho que parte para a guerra continha a essência dos objetivos de um nobre, de um fidalgo: devotar-se na busca da excelência, sobrelevar-se, tornar-se alguém memorável. Todo o Código do Cavaleiro que por séculos iria orientar a aristocracia helênica baseava-se pois apenas nisso: a obrigação de tentar ser alguém extraordinário, inesquecível, cuja fama correria o mundo.
Nada mais podia vir a interessar um autêntico guerreiro, que para tanto devia ser provido de thymos, o ânimo, impulso que dará início a sua legenda. Tal como um tablado serve para um ator expor seu histrionismo, o campo de batalha serve como um amplo teatro onde, aos olhos dos demais valentes, ele demonstra suas habilidades e virtudes excepcionais; corajoso na refrega, magnânimo na vitória.
O teste definitivo se dava em meio aos gritos lancinantes dos feridos, ao cheiro forte do sangue derramado, do relinchar selvagem dos corcéis, da gritaria geral de fúria, de horror ou de êxtase da soldadesca em meio ao Campo de Marte. O confronto singular era, por assim dizer, o exercício obrigatório que ele devia cumprir na conquista da areté. Viver é Combater!
Ressalte-se que a pugna somente merecerá o registro, só ficará na história e no canto do rapsodo, se ela se der entre os da mesma estirpe: um nobre de linhagem, de sangue aristocrático. É entre leões que se dá a embate. Só um deles merecerá os louros sagrados da vitória. Nenhum valor lhes seria acrescentado à fama enfiar uma lança num peito plebeu, gastar o fio da lâmina num infante qualquer, num anônimo que ninguém sabe de onde veio.
Entre os tantos encontros na arena relatados por Homero ao longo da Ilíada (os que envolvem morte e ferimentos são mais de 140 registros, descritos um a um pelo gênio poético dele), merece a atenção o de Glauco (um jovem guerreiro lício.filho de Anfilioques, que lutava do lado troiano) com o enfurecido Diomedes (filho de Tideo, um espadachim terrível que veio junto com os gregos, e que além da ferocidade natural era protegido pela deusa Atena).
Um pouco antes de chocarem suas carruagens, Glauco responde à indagação do rival sobre sua linhagem: expõe então ao inimigo em detalhes de como ele descendia de casa ilustre, como corria sangue puro em suas veias, herdado do sábio Belerofonte, o quanto ele se qualificava para aquele duelo mortal. Um bravo mais do que merecedor de estar ali na liça provocando o famoso Diomedes. (*)
(*) ...se queres ser bem informado acerca do meu nascimento, há uma cidade, Efira, num recanto de Argos, onde se criam cavalos, e ali foi a morada de Sísifo.....Hipoloco foi meu pai. Mandou-me a Tróia e recomendou-me muitas vezes que me destacasse e sobrepujasse os demais, e não envergonhasse a raça do meu pai, a mais valente em Efira e na vasta Lícia. Desta raça e deste sangue eu me orgulho de ser."(Diomedes então, reconhecendo que fora amigo daquela família, confraternizando com Glauco, propõe que eles apertem as mãos e façam uma trégua entre eles)[Canto VI da Ilíada].


  • O homem excelente e o homem vulgar
Diomedes fere Enéas (Canto V da Ilíada)
A busca da areté, é portanto, um atributo exclusivo do homem de valor, do que se destaca e ascende entre tantos outros. Na ética guerreira de Homero não se cogitava que nascidos de ventre ordinário pudessem almejar tal prêmio. Ao de baixa origem era reservado um destino anônimo de um figurante sem brilho. Quando a morte o apanhava em meio ao tumulto da batalha não havia dor nem luto, era um simples ninguém que jamais seria incluído no Livro dos Heróis. Tudo era diferente quando um guerreiro invulgar, um notável reconhecido por todos, era abatido.
Por vezes, até o combate cessava em sinal de sincero respeito frente à triste notícia de tamanha perda. Aquiles, em homenagem póstuma a Pátroclo, seu companheiro de aventuras, desaparecido do mundo dos vivos por obra do gládio de Heitor, príncipe de Tróia, decide honrá-lo na cerimônia final de cremação do corpo com jogos e disputas viris. Distribui entre os competidores vencedores, parte considerável do seu patrimônio: "caldeiras, trípodes, cavalos, mulas, bois, belas mulheres, armas e talentos de ouro" (Canto XXIII – Os funerais de Pátroclo).
Alcançar a areté, a virtude que irá imortalizar o guerreiro, não é pois um apanágio de todos eles. O verdadeiro opositor do demandante não é nem nunca foi o homem comum (demiurgói), mas sim um outro seu igual, nobre como ele.
Ainda que pertençam a uma casta especial, tida como a dos melhores homens (aristói), somente uns poucos se qualificarão. Heitor, em seus derradeiros momentos, ao ver que a morte lhe chegava, disse: "Agora, meu destino encontrou-me. Que eu não pereça docilmente, sem bravura e sem glória, mas praticando um grande feito para os ouvidos das gerações que hão de vir" (Canto XXII, 304-5).
Nem o escravo nem aquele que algum dia foi homem de origem ilustre mas tornou-se escravo (pois os deuses removem dele o que lhe restara da areté), poderá sequer sonhar com tal aspiração. Esses pobres estão condenados ao esquecimento.
A vida deles foi-se como uma folha ao vento, sem deixar saudades ou qualquer outra lembrança. É frente aos seus pares que o herói irá colher o "reconhecimento" e o "prestígio" que lhe é devido. Somente ao vitorioso é que poderemos chamar de monarca dos aristocratas. (*)
(*) O tema de haver um duelo primeiro entre iguais que depois, conforme quem vença ou saia derrotado, irão se separar para sempre, um como senhor o outro como escravo, foi exposto por Hegel numa célebre passagem da "Fenomenologia do Espírito" (IV- A – "A independência e dependência da consciência de si: Dominação e Escravidão", editado em de 1807). O vitorioso, por sua vez, dali em diante, como "consciência para si", sempre terá que se mostrar, exibindo-se frente aos seus pares, os vitoriosos de outros duelos, "a outra consciência", para merecer deles o "respeito" e o "reconhecimento".


  • O modelo dos heróis
O herói enfrenta a fera
O que a ética de Homero propõe é o cultivo de um modelo, a do Homem Perfeito, o Homem de Bronze. Um ser raro que não se guia pela lei comum nem é obediente ao convencional; é o fora de série que não somente se sobressai entre os demais como faz ele mesmo as regras que pretende seguir.
Não são os carneiros balindo em rebanho quem o inspiram, mas sim a solidão altiva do lobo e a bravura o leão. É um herói que, mesmo sem qualquer amparo dos deuses, deve responder sozinho aos desafios que surgem e vingar as desonras que por acaso o submetem. Ele é superior. Recebeu uma herança honrada, de escol, a qual precisa manter imaculada, sem as manchas da covardia e da deserção.(*)
O seu esforço era ampliar o nome herdado por meio de uma fama ainda maior dos que o antecederam. De estatura elevada, de notável vigor físico, belo, destro com as armas e com os cavalos, varonil, ágil e astuto, partilhando os despojos de guerra com os amigos, piedoso para com deuses e implacável para com os inimigos, servia como exemplo a todos.
Devia sempre considerar que era melhor conquistar a celebridade numa só ação, numa proeza impressionante, ainda que correndo perigos mil, do que deixar correr o restante da vida sem um brilho, sem um feito, sem nada.
Preferível viver pouco deixando legenda, como foi o caso de Aquiles, do que muito tempo e não ser ninguém. (**) Todos os demais cavaleiros deviam segui-lo nessa decisão. As gerações que se sucedem teriam sempre o seu nome na lembrança, invocando-o em meio à batalha, inspirando-se nos feitos de outrora.
Essa era a verdadeira imortalidade que um herói poderia almejar. Jamais ele seria apagado da memória dos seus e na de todos os que o sucederão pelas idades ainda por vir.
(*) Nietzsche, filósofo contemporâneo, iria fazer reviver esse ethos aristocrático na construção do super-homem, o que estará "acima do bem e do mal", olhando com desprezo os vencidos e os fracos (ver "Assim Falou Zaratustra", 1883)
(**) "Quem está impregnado de estima própria antes quer viver em breve espaço no mais alto gozo que passar uma longa existência em indolente repouso; prefere viver um ano só por um fim nobre que uma larga vida por nada; escolhe antes escutar uma única ação grande e magnífica, a fazer uma série de pequenas insignificâncias."

  • Efeitos perduráveis
Werner Jaeger, um dos mais eruditos estudiosos da cultura grega antiga, assegurou que o verdadeiro objetivo da formação educacional grega, a Paidéia, desde aqueles tempos, foi imitar essa virtude dos antigos guerreiros.
O fato de Atenas bem mais tarde ter implantado uma democracia não alterou profundamente a concepção de herói herdada dos tempos da Grécia Arcaica e de domínio aristocrático. Seus dois maiores filósofos, Platão e Aristóteles, educadores do Ocidente, por igual continuaram presos à ética arcaica do valentão nobre e destemido como um ideal a perseguir, sendo que o último a considerou como um norte aplicável à vida dos filósofos.
Muito dela foi, por igual, absorvido pelos atletas olímpicos que mantiveram as pistas de corridas e os saltos de obstáculos como um pacífico substitutivo dos campos de batalha, mantendo ente si os mesmos princípios estabelecidos pelo Código dos Cavaleiros.
Grande parte da retórica democrática continuou influenciada pelos mesmos ideais éticos, de fazer com que também na política os cidadãos seguissem as regras da convivência cavalheiresca, o mesmo acontecendo com os constantes duelos verbais travados entre os homens cultos contidos nos "Diálogos" de Platão ou ainda entre os grandes oradores da cidade.

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Ilíada de Homero e sua problemática teórica

A Ilíada, obra atribuída a Homero, conta a história da Guerra de Troia, que teve como figuras importantes os apaixonados Páris e Helena e o guerreiro Aquiles.

 

 

Com uma flecha no calcanhar direito, Aquiles cumpriu o destino que os deuses lhe reservaram
Com uma flecha no calcanhar direito, Aquiles cumpriu o destino que os deuses lhe reservaram

A Ilíada é o texto da literatura universal que narra a famosíssima “Guerra de Troia” (Ílion = Troia). Embora bastante conhecido, muitas questões existem em torno da composição, historicidade e até mesmo da relação de tal texto com Homero. Há quem diga que o autor nem existiu, mas que, após séculos de narrativas isoladas, os cantos que compõem o texto tenham sido reunidos sob o nome de Homero, apenas para conferir uma identidade ou autenticidade que privilegia o princípio de autoridade. Ainda se duvida que a guerra tenha acontecido, mas a narrativa tem um fundo histórico, já que é possível a reconstrução de disputas territoriais que visavam à expansão dos gregos para áreas que possuíam jazidas de estanho.
Afora esses dados, a Ilíada tem uma intenção clara e definida: espelhar o modelo de homem a ser imitado pelo povo grego, além de fundar a coesão desse mesmo povo. O ideal de Belo e Bom guerreiro, encarnado no personagem Aquiles, evidencia a necessidade de infundir na mentalidade coletiva dos Aqueus (um dos povos que formam a cultura grega) um comportamento a ser imitado, um modelo de homem a ser seguido. Também a intenção desse artigo é tratar a obra sob o aspecto mitológico e não histórico. Vejamos como se desenvolve a fábula e o seu significado.
A guerra teve como motivo o rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, por Páris Alexandre, príncipe de Troia. Esse rapto foi causado na verdade por influência da deusa Afrodite. Em uma disputa entre as deusas Hera, Atenas e Afrodite, para saber qual era a mais bela, Páris foi o juiz e escolheu Afrodite. Por ser a deusa do amor, ela ofereceu como retribuição o amor da mulher mais bela da Grécia: Helena. Em visita aos chefes espartanos, os troianos foram recebidos com muita hospitalidade. Mas a paixão fulminante que afetou Páris e Helena fez com que fugissem para Troia onde poderiam viver esse amor.
No entanto, essa ação traria desgraça e a queda de Troia, como já previa Cassandra, irmã de Páris e Heitor, todos filhos do grande rei troiano Príamo. Já no nascimento de Páris, uma previsão de que ele traria o fim de Troia fez com que seu pai o mandasse matar, mas, por uma série de desventuras, ele sobreviveu e voltou ao palácio real. Entretanto, o rapto de Helena fez com que o rei Menelau reclamasse sua esposa aos troianos, o que não ocorreu. Com a ofensa, Esparta buscou o apoio do restante da confederação de cidades-Estados gregas, lideradas pelo rei de Micenas, Agamemnon, que tinha ambições em relação ao território troiano. Aliando seus interesses, reuniram uma marinha incrivelmente numerosa para a guerra. Mas o grande diferencial era a participação do herói Aquiles.
Aquiles era filho de uma deusa, Tétis, com um mortal. Ao nascer, sua mãe, prevendo o futuro do filho, lançou-o às águas do mar Estige, que o tornaria imortal, segurando-o apenas pelo calcanhar, onde, veremos, ficou vulnerável. Já adulto, foi-lhe revelado que deveria escolher participar da guerra e morrer ou não ir à Troia e ter uma vida tranquila e longa. Sua aspiração era a de que seu nome como guerreiro ecoasse pela eternidade, mesmo que sua vida, dessa forma, fosse curta.
Aquiles também reunia em si as características do herói, como força, habilidade, velocidade. Em batalha era imbatível. Representava para os argivos (os soldados Aqueus) uma inspiração no campo de batalha.
Decidido a ir para a batalha, Aquiles juntou-se ao cerco de Troia. Ele tinha como discípulo o guerreiro Pátroclo, que combateu ao seu lado na guerra. No pano de fundo da guerra, os deuses favoreciam ora os gregos, ora os troianos. Vários nomes são destaque na batalha: Nestor, Odisseu, Ajax, Heitor.
O comandante Agamemnon capturou a bela Criseida, filha de Crisis e Pitonisa, do templo de Apolo. Aquiles se rebelou com essa prisão, pois estava encantado pela virgem. Com isso, decidiu se afastar da guerra, gerando milhares de baixas aos Aqueus. Afastado, ele permitiu que Pátroclo usasse sua armadura. No campo de batalha, o grande Heitor, príncipe de Troia, enfrentou-o e matou-o, acreditando se tratar de Aquiles. Sabendo disso, Aquiles procurou Heitor para um duelo no qual derrota a grande esperança dos troianos. O sábio rei Príamo lhe reclamou o corpo para os funerais num gesto bastante corajoso. Mas, ainda desmotivado pelo episódio de Criseida, Aquiles não voltou à batalha. Assim, os gregos sofreram revezes, já que não conseguiam penetrar na fortaleza de Troia em razão dos seus altos muros.
A batalha já durava 10 anos e, querendo voltar para casa, os soldados, já desanimados, sentiam o estigma da derrota. Até que o astuto Odisseu teve uma brilhante ideia: além de persuadir Aquiles a voltar para a batalha, ele propôs usar a madeira das naus para construir um cavalo gigantesco que seria oferecido aos troianos como presente dos deuses após a guerra. O Cavalo de Troia, que os troianos levaram para dentro de sua cidade, guardava no seu interior um batalhão de argivos que invadiram a cidade e abriram os portões para que a tropa grega pudesse adentrar e, com isso, derrotar os inimigos.
Nesse episódio final, os aqueus massacraram os troianos, incendiando a cidade, enquanto Menelau procurava incansavelmente por Helena, que fugira. Páris foi ferido e morto. Aquiles foi atingido no calcanhar direito (o vulnerável calcanhar de Aquiles) por uma flecha desferida por Filolectes e, assim, cumpriu o destino que os deuses lhe reservaram. Troia foi destruída, Agamemnon apossou-se da terra e, depois de muito tempo de procura, Menelau encontrou Helena, que, já tendo se casado uma outra vez, voltou para Esparta. Assim, os soldados puderam, depois da pilhagem, voltar a seus reinos.
É assim que entendemos a moral do mito: Helena (do grego ELLAS = Grécia) parece justamente contar a história do surgimento e da formação do povo grego. E a imagem que se quer transmitir é a do belo e do bom guerreiro, tal como Aquiles, que preferiu morrer e ser lembrado para sempre por causa de seus feitos, a viver uma vida longa e medíocre na paz dos campos de pastoreio.

Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

FONTE: http://www.brasilescola.com/filosofia/iliada-homero-sua-problematica-teorica.htm

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Poeta catarinense

Cruz e Sousa

24/11/1861 - Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis (SC)
19/03/1898, Sítio (MG)
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
[creditofoto]
João da Cruz e Sousa era Filho de Guilherme da Cruz, mestre pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, lavadeira, ambos negros e escravos, alforriados por seu senhor, o coronel Guilherme Xavier de Sousa. Do coronel, o menino João recebeu o último sobrenome e a proteção, tendo vivido em sua casa como filho de criação.

Estudou no Ateneu Provincial Catarinense, de 1871 a 1875, onde aprendeu francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. Aos oito anos, já recitava versos seus, em homenagem a seu protetor.

Em 1881, fundou com Virgílio Várzea e Santos Lostada, o jornal Colombo, no qual proclamavam adesão à Escola Nova (o Parnasianismo). Nesse mesmo ano, viajou pelo Brasil na Companhia Dramática Julieta dos Santos, na função de ponto. Também realizou conferências abolicionistas em várias capitais.

Em 1884, foi nomeado pelo presidente da província de Santa Catarina, Dr. Francisco Luís da Gama Rosa, Promotor de Laguna, função que não pode assumir, pois a nomeação fora impugnada pelos políticos locais. Publicou "Tropos e Fantasias", em colaboração com Virgílio Várzea.
Partiu para o Rio de Janeiro, em 1888, onde só ficou por oito meses, por não conseguir um trabalho que o sustentasse, mas conheceu Nestor Vítor, que seria seu grande amigo e divulgador de sua obra.

Dois anos mais tarde, voltou para o Rio de Janeiro e passou a colaborar com as revistas "Ilustrada" e "Novidades". No ano seguinte começou a publicar nos jornais: "Folha Popular" e "O Tempo", manifestos simbolistas. Fez parte do grupo "Novos", denominação dos "decadentes" ou simbolistas.

Publicou, em 1893, "Missal" (poemas em prosa) e "Broqueis" (poemas). Com essas obras, consagrou-se como o fundador do Simbolismo brasileiro, por combinar o parnasianismo, o pessimismo, o materialismo à musicalidade simbolista, sob as influências de Baudelaire e Antero de Quental, de quem foi grande leitor.

Casou-se, neste mesmo ano, com Gavita Rosa Gonçalves, com quem teve quatro filhos. Foi nomeado praticante e, posteriormente, arquivista da Central do Brasil. Em 1894, foi diagnosticada a tuberculose que o levou para Sítio (MG), na esperança de uma melhora que não aconteceu. Postumamente, foram lançados seus livros "Evocações" (1898), "Faróis" (1900) e "Últimos Sonetos" (1905), em edições organizadas por Nestor Vítor.


                                                 CANÇÃO DO BÊBADO

Na lama e na noite triste
Aquele bêbado ri!
Tu’alma velha onde existe?
Quem se recorda de ti?

Por onde andam teus gemidos,
Os teus noctâmbulos ais?
Entre os bêbados perdidos
Quem sabe do teu — jamais?

Por que é que ficas à lua
Contemplativo, a vagar?
Onde a tua noiva nua
Foi tão depressa a enterrar?

Que flores de graça doente
Tua fronte vem florir
Que ficas amargamente
Bêbado, bêbado a rir?

Que vês tu nessas jornadas?
Onde está o teu jardim
E o teu palácio de fadas,
Meu sonâmbulo arlequim?

De onde trazes essa bruma,
Toda essa névoa glacial
De flor de lânguida espuma,
Regada de óleo mortal?

Que soluço extravagante,
Que negro, soturno fel
Põe no teu ser doudejante
A confusão da Babel?

Ah! das lágrimas insanas
Que ao vinho misturas bem,
Que de visões sobre-humanas
Tu'alma e teus olhos tem!

Boca abismada de vinho,
Olhos de pranto a correr,
Bendito seja o carinho
Que já te faça morrer!

Sim! Bendita a cova estreita
Mais larga que o mundo vão,
Que possa conter direita
A noite do teu caixão!




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 O POETA MÍSTICO E SANTO ESPANHOL JOÃO DA CRUZ


João da Cruz nasceu em 1542, provavelmente no dia 24 de Junho, em Fontiveros, província da cidade de Ávila, em Espanha. Os seus pais chamavam-se Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda. Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem do Carmo aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa. No entanto, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os Conventos Carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em Setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa de Ávila, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres, surgindo posteriormente os carmelitas descalços. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de Novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite escura da alma", da "Subida ao Monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de amor viva".


                                                    VELHO VENTO
Velho vento vagabundo!
No teu rosnar sonolento
Leva ao longe este lamento,
Além do escárnio do mundo.

Tu que erras dos campanários
Nas grandes torres tristonhas
E és o fantasma que sonhas
Pelos bosques solitários.

Tu que vens lá de tão longe
Com o teu bordão das jornadas
Rezando pelas estradas
Sombrias rezas de monge.

Tu que soltas pesadelos
Nos campos e nas florestas
E fazes, por noites mestas,
Arrepiar os cabelos.

Tu que contas velhas lendas
Nas harpas da tempestade,
Viajas na Imensidade,
Caminhas todas as sendas.

Tu que sabes mil segredos,
Mistérios negros, atrozes
E formas as dúbias vozes
Dos soturnos arvoredos.

Que tornas o mar sanhudo,
Implacável, formidando,
As brutas trompas soprando
Sob um céu trevoso e mudo.

Que penetras velhas portas,
Atravessando por frinchas...
E sopras, zargunchas, guinchas
Nas ermas aldeias mortas.

Que ao luar, pelos engenhos,
Nos miseráveis casebres
Espalhas frios e febres
Com teus aspectos ferrenhos.

Que soluças nos zimbórios
Os teus felinos queixumes,
Uivando nos altos cumes
Dos montes verdes e flóreos.

Que te desprendes no espaço
Perdido no estranho rumo
Por entre visões de fumo,
Das estrelas no regaço.

Que de Réquiens e surdinas
E de hieróglifos secretos
Enches os lagos quietos
Revestidos de neblinas.

Que ruges, brames, trovejas
Ó velho vândalo amargo,
No sonâmbulo letargo
De um mocho rondando igrejas.

Que falas também baixinho
Lá da origem do mistério,
Trazendo o augúrio sidéreo
E certa voz de carinho...

Que nas ruas mais escusas,
Por tardes de nuvens feias,
Como um ébrio cambaleias
Rosnando pragas confusas.

Que és o boêmio maldito,
O renegado boêmio,
Em tudo o turvo irmão gêmeo
Do sonhador Infinito.

Que és como louco das praças
Nos seus gritos delirantes
Clamando a pulmões possantes
Todo o Inferno das desgraças.

Que lembras dragões convulsos,
Bufantes, aéreos, soltos,
Noctambulando revoltos
Mordendo as caudas e os pulsos.

Ó velho vento saudoso,
Velho vento compassivo,
Ó ser vulcânico e vivo,
Taciturno e tormentoso!

Alma de ânsias e de brados,
Consolador companheiro
Sinistro deus forasteiro
D'espaços ilimitados!

Tu que andas, além, perdido,
Tateando na esfera imensa
Como um cego de nascença
Nos desertos esquecido...

Que gozas toda a paragem,
Toda a região mais diversa,
Levando sempre dispersa
A tua queixa selvagem.

Que no trágico abandono,
No tédio das grandes horas
Desoladamente choras,
Sem fadigas e sem sono.

Que lembras nos teus clamores,
Nas fúrias negras, dantescas,
Torturas medievalescas
Dos ímpios inquisidores.

Que és sempre a ronda das casas,
A gemente sentinela
Que tudo desgrenha e gela
Com o torvo rumor das asas.

Que pareces hordas e hordas
De hirsutos, intonsos bardos
Vibrando cânticos tardos
Por liras de cem mil cordas.

Ó vento lânguido e vago,
Ó fantasista das brumas,
Sopro equóreo das espumas,
Ó dá-me o teu grande afago!

Que a tua sombra me envolva
Que o teu vulto me console
E o meu Sentimento role
E nos astros se dissolva...

Que eu me liberte das ânsias
De ansiedades me liberte,
Pairando no espasmo inerte
Das mais longínquas distâncias.

Eu quero perder-me a fundo
No teu segredo nevoento,
Ó velho e velado vento,
Velho vento vagabundo!


POEMA DE JOÃO DA CRUZ.
        



 

 

quinta-feira, 23 de abril de 2009

UNILIVRE – CURITIBA

Um lugar encantador que tive a oportunidade de conhecer. Como muitos dos parques de Curitiba a UNILIVRE trás o contato com a natureza. Para mim foi como fugir deste mundo urbana, cheiro de poluição sonora para um pedacinho do céu...




UNILIVRE - Universidade Livre do Meio Ambiente, é uma Organização Não-Governamental pioneira na inclusão dos vários segmentos da sociedade na discussão sobre o meio ambiente.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Praia de Itapema do Norte




Praia de mar adentro, areias brancas e um por-do-sol lindo!

Para mim é um dos melhores lugares do mundo... Pois foi ali que passei grandes momentos de minha infância... Bom, e onde encontrei o amor de minha vida!!!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Praia Mole - Brasil



Seu nome teve origem devido à areia solta e macia. A Praia Mole está localizada na Ilha de Santa Catarina, na grande e bela Florianópolis, é um lugar que atrai muitos jovens pela pratica de surf e parapente no qual aproveitam a encosta sul como rampa de decolagem.





Um lugar lindo e inesquecivél!!!!!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Capadócia - Turquia



Na Capadócia, no planalto da Anatólia Central, a erosão esculpiu formas espetaculáres que fazem desta região histórica uma maravilha da Natureza

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O Lago Baikal

O Lago Baikal está situado no centro da Ásia , no suldeste da Sibéria, possuindo um quinto das reservas mundiais de água doce. Nas suas aguas profundas se desensolvem uma flora e uma fauna muito variada. Um lindíssimo lugar!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ilha de La Digue - África



Localizada nas ilhas Seychelles, a Ilha de La Digue lembra pingos de tinta verde-escura salpidado sobre o fundo do mar, com sua praia de areia fina,onde erguem-se alguns coqueiros entre os blocos de granito róseo, desgastados e polidos pela agua.

A Calçada dos Gigantes - Irlanda do Norte



Na costa setentrional do planalto de Antrim, na Irlanda do Norte, milhares de colunas resultantes do arrefecimento sa lavas basálticas foram truncadas pelas ondas. Lembrando um empedramento escuro e pesado, elas formam a Calçada dos Gigantes.

 

 

 CURIOSIDADE - VOCÊ SABE O QUE UM PALÍNDROMO?

domingo, 23 de agosto de 2009







Um palíndromo, é uma palavra, frase (anacíclicas) ou um número (capicua) que se lê da mesma maneira nos dois sentidos normalmente, da esquerda para a direita e ao contrário.

Exemplos: OVO, OSSO, RADAR, OMO.
O mesmo se aplica às frases, embora a coincidência seja tanto mais difícil de conseguir quanto maior a frase; é o caso do conhecido:
SOCORRAM-ME, SUBI NO ONIBUS EM MARROCOS.

Diante do interesse pelo assunto (confesse, você leu a frase de tras pra frente, só para conferir), selecionei alguns dos palíndromos mais conhecidos da língua de Camões...

A CARA RAJADA DA JARARACA

A RITA, SOBRE VOVÔ, VERBOS ATIRA.

ANOTARAM A DATA DA MARATONA

ASSIM A AIA IA A MISSA

A DIVA EM ARGEL ALEGRA-ME A VIDA

A DROGA DA GORDA

A MALA NADA NA LAMA

A TORRE DA DERROTA

LUZA ROCELINA, A NAMORADA DO MANUEL, LEU NA MODA DA ROMANA: ANIL É COR AZUL

O CÉU SUECO

O GALO AMA O LAGO

O LOBO AMA O BOLO

O ROMANO ACATA AMORES A DAMAS AMADAS E ROMA ATACA O NAMORO

RIR, O BREVE VERBO RIR

SAIRAM O TIO E OITO MARIAS

ZÉ DE LIMA RUA LAURA MIL E DEZ

 
 
 
 
 
 
 TRÊS GRANDES MULHERES DA HISTÓRIA
 
COMO HOMENAGEM ÀS MULHERES COLOCAMOS AQUI TRÊS INCRÍVEIS, MARCANTES, 
CULTAS E INTELIGENTES MULHERES QUE FIZERAM E MARCARAM A HISTÓRIA DA
 HUMANIDADE, APESAR DE SEREM POUCO CONHECIDAS. A PRIMEIRA É ASPÁSIA,
 FILÓSOFA E GRANDE INTELECTUAL DA GRÉCIA DE PÉRICLES (SÉC.V A.C.); 
A SEGUNDA É A EGÍPCIA HIPÁTIA (370 D.C. - 415 D.C.), FILÓSOFA, MATEMÁTICA, 
ASTRÔNOMA E EXÍMIA PESQUISADORA. UMA DAS MAIS RARAS PESSOAS, 
NO MUNDO ANTIGO, QUE DEFENDIA O HELIOCENTRISMO; A TERCEIRA E ÚLTIMA 
 É A FRANCESA OLYMPE DE GOUGES (1748 - 1793), PRIMEIRA MULHER A DEFENDER
 OS DIREITOS DE IGUALDADE ENTRE TODOS, MULHERES E HOMENS. 
 
 
ASPÁSIA (SÉC. V A.C.)

Ao escrever sobre Aspásia (meados do século V a.C.), mais de 2 mil anos após sua morte, o presidente americano John Adams (1735-1826) afirmou: ”Gostaria que alguns de nossos homens mais proeminentes tivessem esposas assim”. Aspásia viveu em uma das eras mais grandiosas da história do mundo, quando as civilizações clássicas floresceram na Grécia e Roma antigas. Conseguimos lembrar de diversos homens famosos desse período, como os filósofos Sócrates (470?-399 a.C.), Platão (427?-347 a.C.) e o dramaturgo Eurípedes (484-406 a.C.). Entretanto, muito pouco se registrou sobre as mulheres da época, porque elas eram em geral, relegadas aos papéis de escravas, cortesãs ou esposas, sendo confinadas ao lar e excluídas da participação na vida pública.

Aspásia, que nasceu em Mileto, na região leste da Grécia, chegou a Atenas por volta de 450 a.C. Como vinha de fora, por lei, não podia se casar; tornou-se então, uma das mulheres do grupo conhecido como hetera – mulheres de excelente educação e que, por serem solteiras, tinham liberdade para estudar, assistir a palestras e até participar de debates com homens.

Aspásia, cerca de 450 a.C., gravura.

Conhecida por sua genialidade e grande beleza. Aspásia abriu uma escola de filosofia e retórica. Em pouco tempo, sua casa de transformou em um dos salões mais importantes de Atenas, freqüentada pelos estudiosos, políticos e artistas que mais se destacavam na época, inclusive por Platão, que afirmou que ela havia lhe ensinado a teoria do amor, e Sócrates, que disse ter sido ela que lhe ensinou a arte da eloqüência. Também freqüentava a casa de Aspásia, o juiz mais importante de Atenas, Péricles (495-429 a.C). Durante seus 30 anos de governo, período que posteriormente ficou conhecido como a era Péricles, Atenas se tornou um estado democrático e reinou como centro intelectual e artístico do país.

Péricles se apaixonou por Aspásia, mas como ela não era natural de Atenas, e conseqüentemente não podia se tornar sua esposa legal, ele se divorciou de sua esposa e a fez sua consorte. A partir de então, Aspásia tornou-se sua conselheira política e confidente, apoiando-o em sua luta contra a aristocracia em prol do estabelecimento da democracia. Alguns historiadores a consideram responsável pela desastrosa Guerra da Peloponeso (431 a.C.), que teria sido declarada por Péricles devido à sua insistência. Outros atribuem a ela a redação do eloqüente discurso feito por Péricles a suas tropas ao final da guerra. Aspásia também o convenceu a mudar as leis que restringiam os papéis das mulheres na sociedade grega.
Após a morte de seus dois filhos com sua primeira mulher, Péricles sancionou uma lei tornando seu filho com Aspásia, também chamado Péricles, cidadão ateniense. Mais tarde, o jovem Péricles se tornou general do exército. Impossibilitados de criticar Péricles diretamente, os atenienses, que se ressentiam do seu relacionamento com Aspásia a acusaram de faltar ao respeito para com os deuses. Depois da defesa veemente e lacrimosa de Péricles, Aspásia foi considerada inocente.
 
 
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Hipátia de Alexandria (370 D.C. - 415 D.C.)
deldebbio | 15 de fevereiro de 2010
Texto da coluna Alma Mater, do Nerd Somos Nozes bem legal:
Quando tive a idéia de escrever sobre a vida das Grandes Mulheres do Passado a primeira personagem real que me veio à cabeça foi Hipátia de Alexandria. Me lembro do dia que li sobre ela em um de meus livros relacionado ao Império Romano. Havia apenas um pequeno parágrafo… a sensação que passava era de que só estava ali para preencher espaço e dizia apenas: Hipátia de Alexandria, matemática e filósofa, foi diretora da Academia de Alexandria (Biblioteca de Alexandria) e morreu em 415. Nada mais, apenas essa curta frase, porém foi o suficiente para despertar em mim a curiosidade. Afinal, quem fora essa mulher que não só fora matemática e filósofa numa época impensável para as mulheres exercerem tais funções, como chegou a ser diretora de uma das maiores escolas da antiguidade?! Dali para frente procurei pesquisar tudo o que podia. Infelizmente não nos chegou muito sobre a vida dessa Grande Mulher, mas o que temos vale como lição para se carregar para sempre.

Hipátia nasceu em Alexandria por volta do ano 370 D.C. Para aqueles que não lembram, Alexandria é uma cidade do Egito e foi fundada por Alexandre da Macedônia, popularmente conhecido como Alexandre, O Grande.
Na antiguidade Alexandria foi um grande pólo de cultura e livre expressão, mas, na época em que Hipátia nasceu, a cidade encontrava-se em uma disputa entre a Igreja Católica, que crescia em poder rapidamente, e as correntes filosóficas que punham em cheque as doutrinas da nova religião.
Filha de Theon, filósofo, matemático e astrônomo, diretor do Museu de Alexandria; Hipátia creceu em um ambiente cercado de cultura sendo guiada por seu pai nos estudos da Matemática e Filosofia. Ele acreditava no ideal grego da “mente sã em um corpo sadio” (“men sana in corpore sano”) estimulando a filha a exercitar tanto a mente como o corpo, contam as lendas que ele desejava torna-la “um ser perfeito”.
Ainda jovem viajou a Atenas para complementar seus estudos. Era conhecida na Grécia como “A Filósofa”, já demonstrando cedo sua profunda sabedoria. Sócrates Escolástico relata:
“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.”
Ainda em Atenas tornou-se discípula de Plutarco e professava ensinamentos Neoplatônicos. Ao retornar a sua pátria, foi convidada para assumir uma cadeira na Academia de Alexandria como professora. Por volta dos 30 anos, tornou-se diretora da Academia. Seus conhecimentos abrangiam a Filosofia, a Matemática, Astronomia, Religião, poesia e artes. Era versada em oratória e retórica. Escreveu diversos livros e tratados sobre álgebra e aritmética. Seu interesse por mecânica e tecnologia a levaram a conceber instrumentos utilizados na Física e na Astronomia, como o astrolábio plano, o planisfério e um hidrômetro. Infelizmente suas obras foram perdidas durante o incêndio que destruiu a Biblioteca de Alexandria. Tudo o que chegou-nos vem através de suas correspondências. Um de seus alunos Hesíquio o hebreu, escreveu:
“Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que a quisessem ouvi-la… Os magistrados costumavam consulta-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.
Hipátia foi uma Grande Mulher que nasceu na época errada. Sua defesa fervorosa ao livre pensamento, seus ensinamentos Neoplatônicos, sua observação de que o universo era regido pela leis da matemática a caracterizaram como herege em um momento onde o Cristianismo triunfava sobre o Paganismo. Enquanto Orestes, um ex-aluno, fora prefeito da cidade, sua vida estivera protegida. Mas quando Cirilo tornou-se bispo de Alexandria, determinado a destruir todo o movimento pagão, sua morte foi anunciada.
Em uma tarde de 415 D.C. retornando a sua casa, Hipátia foi abordada por uma turba de cristãos furiosos que a arrancaram de sua carruagem, arrastaram-na para uma igreja e lá rasgaram-lhe as roupas deixando-a completamente nua e assim puseram-se a retalhar seu corpo esfolando-lhe a carne de seus ossos utilizando para isso cascas de ostras afiadas. Por fim desmembraram-lhe o corpo e os atiraram as chamas.
Morria com ela toda uma era de liberdade e florescimento filosófico e cultural em Alexandria e certamente para todos que viviam sobre a espada afiada da nova religião.
Carl Sagan escreveu em seu livro Cosmos:
“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.”
Essa Grande Mulher nutriu toda uma época com a luz do conhecimento e do saber. Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória de todos os famintos pela verdade. Hipátia retorna forte e vibrante ao alcance daqueles que buscam por seus ensinamentos. Ainda há pouco, enquanto terminava minha última pesquisa para esse artigo, me deparei com a notícia de que o diretor Alejandro Amenábar recentemente lançou no festival de Cannes o filme Ágora, que conta ao mundo a vida de Hipátia de Alexandria.
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OLYMPE DE GOUGES, 
A PIONEIRA DOS DIREITOS DE IGUALDADE 
 
 
Colocamos dois pequenos artigos
que falam um pouco sobre Olympe de Gaouges (1748 - 1793. Uma 
grande mulher que estava muito a frente de seu tempo, apesar de viver 
em um momento histórico bastante especial, a Revolução Francesa. 
Olympe foi incompreendida por defender direitos iguais entre mulheres
e homens. Pioneira nesta luta. Mas, mesmo com os lemas da Revolução
que eram, a igualdade,a liberdade e a fraternidade, a intolerância
aos direitos femininos imperava, a ponto dela ser guilhotinada 
com 45 anos de idade.  
 

http://observatoriodamulher.org.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=45&Itemid=146

Olympe de Gouges (1748 - 1793)





By Rogério Mello,
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Olympe de Gouges é uma das personagens mais estudadas da Revolução Francesa e considerada a pessoa que melhor encarnou os princípios igualitários e progressistas da revolução.

Marie Gouze nasce em 1748 em Montauban, França. Filha de uma família modesta, seu pai era açougueiro e a mãe, serviçal. Aos 16 anos, casa-se com um homem muito mais velho. Um ano depois, ela dá à luz seu único filho. O matrimônio não dura muito. Logo em seguida ao parto, fica viúva.

Desde então ela resiste às pressões familiares e se opõe a um novo casamento. "O casamento é o túmulo da confiança e do amor", dizia. A vida conjugal a impediria de levar adiante seu projeto: queria ser uma mulher de letras. Muda-se para Paris, onde seu amante, Jacques Bétrix, lhe garante uma certa renda. A mudança não é apenas de cidade. Ela passa a chamar-se Olympe de Gouges.

Nos salões de arte, ela encontra os maiores nomes da literatura e da filosofia francesa.
Independente, abraça as causas mais diversas, como a abolição dos escravos e a emancipação das mulheres, a construção de orfanatos e maternidades para mães solteiras, a instituição do divórcio e a criação de um teatro para a dramaturgia feminina. Escreve 30 peças teatrais e seu primeiro trabalho é lido na Comédia Francesa, porém jamais é montado.

O ano de 1788 é marcado pela convocação da assembléia dos Estados Gerais. Nobreza, clero e terceiro estado são convidados a sugerir reformas para apaziguar o clima de insatisfação que está tomando conta do país. Olympe de Gouze tem 40 anos e atende ao chamado. De agora em diante, sua vida seriam a política e as leis.
Entre 1788 e 1793, é a única mulher a testemunhar os principais episódios que culminariam na Revolução Francesa e a escrever, no calor da hora, sobre eles. Ela sacrifica sua fortuna e sua vida dedicada às artes para inundar Paris com cartazes, panfletos e tratados políticos e se torna uma das figuras mais emblemáticas da revolução.

Sua paixão é tamanha que um texto dessa época a imortaliza. É a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (1791). Ela remete a declaração à Assembléia Nacional, com o pedido de que fosse decretada como fundamento da Constituição do país. Ela acredita que não há revolução sem as mulheres.

Mas a intolerância dos regimes - a Monarquia e depois a Convenção - não aceita seu espírito libertário. Revoltada com o regime de terror implantado pelos revolucionários, ela ataca duramente Marat e Robespierre, que passam a considerá-la "perigosa demais". Seu envolvimento com a política provoca antipatia e perseguição até no meio intelectual que a acolhera. Sua coragem é chamada de loucura e heresia. Mas Olympe de Gouges defende seu ideal até o sacrifício de sua vida.

Ela morre guilhotinada em Paris, no dia 3 de novembro de 1793. Antes ela afirmaria: "A mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna." Nesse ano, as associações de mulheres são proibidas na França.

No dia seguinte à sua execução, o jornalista de Le Moniteur, Chaumette, lhe dedica a seguinte homenagem: "Lembrem-se de Olympe de Gouges, a primeira a instituir as associações de mulheres e que abandonou os cuidados do lar para se intrometer na República, de quem a cabeça rolou sob o ferro vingador das leis."


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http://www.historia.uff.br/nec/materia/grandes-processos/olympe-de-gouges-mulheres-e-revolu%C3%A7%C3%A3o

Olympe de Gouges: as mulheres e a revolução

A cidade francesa de Montauban fica localizada no sul da França na região dos Médio-Pirineus. É local natal de personagens ilustres, como o do grande retratista do século XIX Jean-Auguste-Dominique Ingres, do revolucionário Jean Bon Saint-André e da ainda “anônima” Marie Gouze.
Nascida em 1748, Marie Gouze vivia envolta na atmosfera feudal, nos costumes patriarcais e no velho paradigma que caracterizavam as relações sociais. Filha de uma família modesta, casou-se cedo com apenas dezesseis anos com um homem bem mais velho, tornando-se mãe e ficando viúva logo em seguida. Esta poderia ser uma história como de tantas outras mulheres da época, mas o que diferencia Marie Gouze das outras mulheres? Que destino aguardava essa ilustre mulher? A diferença fundamental é que para ela o fato de viver fadada aos infortúnios de uma vida regrada e submissa aos padrões da época haveria de ser mudado. Seu pensamento ganhará corpo não só porque era revolucionário em sua concepção, mas porque será pronunciado num tempo onde suas questões terão terreno para se desenvolver. Marie Gouze nasceu num século de intensas transformações.
Muda-se para Paris, pois queria se tornar uma mulher das letras, abandonando quaisquer resquícios do Antigo Regime que poderiam tolhê-la e obrigá-la a viver de um modo pré-determinado. Passa então a se opor ao casamento, inclusive recusando-se a casar com o grande amor de sua vida, Jacques Bietrix de Rozière, mesmo sabendo que ficaria rica se o fizesse. Suas ações inovadoras indicam uma verdadeira virada de valores que até então estavam enraizados na sociedade. Ações tão radicais que culminam na mudança do seu nome para Olympe de Gouges, como ficaria eternamente conhecida. Freqüentando os salões parisienses de arte, ela conhece os maiores nomes da literatura e da filosofia francesa. É uma mulher independente, preocupada com as mais diversas causas, como a emancipação das mulheres, a instituição do divórcio, a abolição dos escravos e a criação de um teatro para a dramaturgia feminina. Escreve 30 peças teatrais e seu primeiro trabalho é lido na Comédia Francesa, porém jamais é montado.
Nos turbulentos dias do ano de 1788, a Assembléia dos Três Estados, que culminaria na Revolução Francesa, foi convocada. Olympe de Gouges, aos quarenta anos, faz-se presente. Disposta e consciente do seu papel naquele processo, sua vida passaria a ser marcada pela política e pelas leis. A Revolução Francesa, além de um marco na história mundial, foi decisiva na história das mulheres. Propondo os ideais de igualdade entre os indivíduos, ela pôs em questão as relações entre os sexos, abordando o lugar de direito da mulher na sociedade. Entretanto, esse lugar não seria concedido, pois até mesmo os líderes revolucionários, seguindo as mesmas opiniões dos contra-revolucionários, defendiam a manutenção do papel social da mulher. Agiam contra os próprios ideais libertários da Revolução e lutavam para que as mulheres “permanecessem em seu lugar”: o ambiente doméstico e a vida privada. Temiam que as mulheres invadissem o território masculino dos direitos, da vida pública e da superioridade na hierarquia dos sexos. Numa época onde as leis eram criadas por homens, as mulheres começam a tomar consciência histórica de sua cidadania e a enxergar a possibilidade de romper as correntes repressivas que as deixavam em posição de submissão e inferioridade aos homens. A mulher era agora civil, política, e exigente do seu lugar na cidade, segundo os direitos que a Revolução lhe dera. Entretanto, essa liberdade era limitada.
Olympe de Gouges não abandonou sua vida em Montauban para presenciar tais acontecimentos e ficar inerte. Muito pelo contrário, para ela a tirania dos homens deveria ser combatida pela militância das mulheres contra as injustiças masculinas: uma guerra entre ambos. Numa sociedade marcada pela distinção entre os sexos, ela via na Revolução um agente transformador que escancarava a exploração da mulher pelo homem e, definitivamente, o momento para a mobilização das mulheres contra tais “atrocidades”. Era hora de suprimir os discursos naturalistas que atribuíam as qualidades do pensamento ao homem e à mulher a sensibilidade, o coração e a família – aos homens a esfera pública e às mulheres a vida privada, observada e controlada pelos “chefes da casa”.
Em 1791 Olympe de Gouges escreve o panfleto Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, um modelo explicitamente feminizado e provocador da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Nele ela conclama as mulheres à ação – “Ó, mulheres! Mulheres, quando deixareis vós de ser cegas?”, numa crítica visceral à desigualdade entre os sexos, visto que a exclusão imposta a elas pouco condiz com a declaração de 89. A inserção da mulher em condições de igualdade, tanto de direitos como de deveres, na vida política e civil do país torna-se essencial para ela.
Olympe de Gouges foi a primeira mulher a lançar-se na arena pública, onde também pôs em prática as suas teorias: ela reivindica os mesmos direitos que os homens, ela correrá os mesmos riscos que eles e lutará para ter as mesmas obrigações. Assume as suas opiniões, através das suas peças de teatro, dos seus panfletos, dos seus cartazes. Denuncia os abusos do Antigo Regime, assim como os do novo, e luta incessantemente pela liberdade, pela justiça, pelos fracos, os oprimidos, as mulheres, mas também os negros, as mães solteiras, os filhos fora do casamento, as prostitutas, os desempregados — sugerindo a criação de oficinas nacionais para empregá-los.
Com o clima do Terror instaurado pelos revolucionários, seus ideais libertários sofrem ameaças. Girondina e revoltada com o Terror, ela ataca duramente Marat e Robespierre, que passam a considerá-la "perigosa demais". Denunciada pelo seu afixador de cartazes, é presa na Ponte Saint-Michel e imediatamente encarcerada. Do fundo da sua masmorra, ainda consegue fazer afixar em Paris um último panfleto descrevendo as condições em que está presa e a garantir a sua inocência. Em vão. Em 2 de Novembro de 1793, às sete da manhã, é julgada e condenada à morte pelo Tribunal Revolucionário. Foi-lhe recusado um advogado. No dia seguinte, ela sobe ao cadafalso. Antes de morrer, afirmaria: "A mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna."
Cronologia da vida de Olympe de Gouges:
  • 1748: Nasce na cidade francesa de Montauban.
  • 1788: Convocação da Assembléia dos Estados Gerais
  • 1791: Escreve o panfleto Declaração dos direitos da mulher e da cidadã.
  • 1793: É executada.
Bibliografia de referência:
  • SLEDZIEWSKI, Élisabeth G. Revolução Francesa. A viragem. IN: História das Mulheres no Ocidente. (Michele Perrot e George Duby, org.), Vol. 4. Porto. Edições Afrontamento, 1991.
  • HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. 19ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.
  • PERROT, Michelle. Mulheres. IN: Os Excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1988.
  • PERROT, Michele (org.). História da vida privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
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LITERATURA
 
 
 
 
 
 


Manuel Bandeira foi um representante do Modernismo brasileiro
Manuel Bandeira foi um representante do Modernismo brasileiro
Manuel Carneiro de Souza Bandeira nasceu em 1886, em Recife. Em 1890 sua família se transferiu para Petrópolis (RJ), e aos seis anos de idade Bandeira regressou à cidade de Recife, por lá permanecendo até os dez anos. De volta ao Rio, cursou o ginásio, no Colégio Dom Pedro II.
Com 16 anos partiu para São Paulo no intento de cursar a faculdade de Arquitetura na Escola Politécnica, porém, ao contrair tuberculose, precisou interromper sues estudos. Assim, retornou ao Rio de Janeiro à procura de cidades que oferecessem um clima mais propício à cura da doença que o acometera, mas em 1913 foi internado no Sanatório de Clavadel, ficando lá por 16 meses.
Em 1917 publicou seu primeiro livro, “A cinza das horas”. A partir de então deu continuidade à sua produção literária, publicando outra obra em 1919, dessa vez, “Carnaval”. Passando a estabelecer contato com o grupo paulista que participara da Semana de Arte Moderna, conheceu Guilherme de Almeida, responsável por indicar suas obras aos demais. A participação do autor no evento em questão foi de forma indireta, mesmo porque decidiu não criticar publicamente aqueles que consideravam os mestres parnasianos e simbolistas, razão pela qual jamais abandonara o lirismo. Nem tampouco se juntara com veemência àqueles adeptos do tom revolucionário, proposto pelos modernistas natos. Dessa forma, podemos afirmar que suas criações são revestidas por apenas ligeiros aspectos modernistas, como a habilidade de abordar temas cotidianos e a liberdade de expressão, manifestada pelo uso de versos livres.
Permanecendo no Rio de Janeiro, além de dar continuidade à sua hábil carreira de artista, tornou-se professor de Literatura no Colégio onde estudou (Dom Pedro II). Em 1940 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 1968, naquela mesma cidade.
Em virtude de ter se formado com base nas referências literárias do Parnasianismo e Simbolismo, Bandeira não se mostrou preocupado em se adequar a esta ou àquela tendência, mas sim em proferir de maneira magistral as emoções que desejava transmitir por meio de suas criações. Assim sendo, podemos afirmar que sua criação se subdivide em três vertentes básicas:
A fase pós-simbolista, na qual deixa escapar traços ainda ligados ao espírito decadentista do Simbolismo, como também à musicalidade formal. Vejamos, pois, uma criação que bem retrata tais aspectos: 
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
A fase modernista, na qual ele “direciona” seus versos para uma linguagem envolta por um tom coloquialista (fazendo uso dos versos livres e brancos). Constatemos outro exemplo:
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar
com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados

O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
A fase pós-modernista, na qual ele faz uma espécie de mesclagem entre o uso dos versos rimados e tradicionais com o uso de versos livres e brancos, bem como as formas populares, como o rondó – caracterizado por um poema com apenas duas rimas e formado de três estrofes, totalizando quinze versos. Constatemos, portanto, um exemplo:
Rondó dos Cavalinhos
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Tua beleza, Esmeralda,
Acabou me enlouquecendo.
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O sol tão claro lá fora
E em minhalma — anoitecendo!
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
Alfonso Reys partindo,
E tanta gente ficando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
A Itália falando grosso,
A Europa se avacalhando...
Os cavalinhos correndo,
E nós, cavalões, comendo...
O Brasil politicando,
Nossa! A poesia morrendo...
O sol tão claro lá fora,
O sol tão claro, Esmeralda,
E em minhalma — anoitecendo!
Em todas as fases aqui retratadas há ainda aspectos dignos de menção, entre os quais o fato de nelas prevalecerem três temas dos quais o poeta fez constante uso: a infância, o amor e a morte.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
 

Biobibliografia de Luís Vaz de Camões

 Ano                      Vida de Camões                                                       Época  
1524/    Nasce Luís de Camões.                                    Lutero prossegue a pregação na Alemanha
/1525                                                                              e na Suíça.
                                                                                       Vasco da gama adoece e morre.
1538     Em Coimbra poderá ter adquirido uma
             grande parte da sua cultura humanística. 
1541     Julga-se em Lisboa.
1542                                                                               Nascimento de Diogo de Couto.
1547     Terá sido desterrado para Constança, por
             ter ousado apaixonar-se por uma dama da
             nobreza.
1549     Parte como soldado para Ceuta, onde
       perdeu em combate o olho direito.
1551     É preso por ter ferido Gonçalo Borges
       numa rixa de rua.
1552     Camões embarca para a Índia. 
1555     Camões encontra-se na Índia. 
1557                                                                              Morte de D. João III.
                                                                                      Portugueses fixam-se em Macau.
1558     Com 33 anos, Camões perde tudo num
             naufrágio, salvando o manuscrito
             d’Os Lusíadas. 
1559     Camões chega a Goa.
1562      Preso por dividas é libertado por ordem do
              vice-rei Francisco Coutinho.
1567      Está em Moçambique a trabalhar na revisão
        do texto d’Os Lusíadas e na composição da  
        obra “Parnaso de Luís de Camões”, que mais
        tarde lhe terá sido roubada.
1569      Embarca para Lisboa: os amigos pagam-lhe
              a passagem e uma divida, dão-lhe de comer
              e de vestir.
1570      Dedica-se à impressão d’os Lusíadas.
1572      Publicação de Os Lusíadas em Lisboa.
              D. Sebastião atribui-lhe uma tença anual de
             15 mil réis.
1580      Morre a 10 de Junho.

Obras de Camões:
  • Três peças de teatro                
   - “Auto dos Anfitriões”
   - “Auto El-rei Seleuco”
   - “Auto do Filodemo”

  • Vários Poemas Líricos
                                      Redondilha menor – Vasos de 5 sílabas
   - Medida velha
(corrente tradicional)          Redondilha Maior – Vasos de 7 sílabas 
        -Medida Nova        Sonetos
(corrente Renascentista) 

  • Quatro Cartas 
         - Uma de Ceuta;
         - Uma da Índia;
         - Duas de Lisboa.

Análise d’Os Lusíadas

Os Lusíadas são constituídos por:
  • Estrutura Externa
-10 Cantos (Chama-se canto porque a obra está escrita em verso)
-Cada canto tem entre 110 a 120 estrofes fazendo um total de 1102 estrofes em toda a epopeia.
-Cada canto/estância tem 8 versos
-Cada verso tem 10 sílabas, que obedecem ao esquema rimático “abababcc” (rimas cruzadas, nos seis primeiros versos, e emparelhada, nos dois últimos).  
  • Estrutura Interna
(4 Partes)
-Proposição
-Invocação
-Dedicatória
-Narração

(4 Planos)
- A viagem de Vasco da Gama;
- A História de Portugal desde o seu início;
- Intervenção dos Deuses;
- Considerações do poeta.

A acção central d’Os Lusíadas       A descoberta do caminho marítimo para a Índia.

Os Lusíadas contam:
  • A viagem de Vasco da Gama, de descoberta do caminho marítimo para a Índia;
  • A morte de Inês de Castro;
  • A batalha de Aljubarrota;
  • A formação de Portugal com a acção de Afonso Henriques;
  • A batalha com o Adamastor;
  • Os amores de Pedro e Inês.

São personagens d’Os Lusíadas:
  • Vasco da Gama;
  • Júpiter;
  • Inês de Castro;
  • Vénus;
  • Adamastor;
  • Rei de Melinde;
  • Baco. 


Os Lusíadas são uma narrativa épica porque:
·         Relatam a História, ou seja, uma acção épica de grande heroísmo e um assunto ilustre, solene e intrinsecamente relacionado com um acontecimento Histórico e bélico;
·         Contam com um herói    Vasco da Gama é a personagem principal, mas é um herói colectivo, pois representa os portugueses em geral;
·         A unidade de acção começa “in média rés”;
·         Existem episódios variados que, não anulando a unidade de acção, enriquecem e dão extensão à epopeia;
·         Intervenção de o maravilhoso (figuras divinas);
·         A estrutura interna tem três ou quatro partes( a dedicatória é facultativa);
·         Está no modo narrativo;
·         Existe uma intervenção reduzida do poeta;
·         O tom e o estilo grandíloquo e solene é adequado ao tema;
·         O verso é decassílabo.

Influências:
·         Renascimento       Adopção e valorização das formas artísticas Greco-Latinas e a assimilação do espírito que lhes subjaz;
·         Humanísmo       Parte do estudo da cultura antiga, valorizando tudo o que é humano e exaltando os valores do Homem como centro do universo. Relaciona.se intimamente, portanto, com o antropocêntrismo;
·         Classicísmo       Estética que estabeleçe um rigoroso sistema de regras dos vários géneros literários.

Fontes:
  • Históricas      crónicas;
  • Literárias           Odisseia de Homero e Elidia
  • Ciêntificas        Tratados de geografia, astronomia (…) para elaborar um plano da viagem.
 
 
 
 
Segue abaixo dois sonetos do genial poeta lusitano e um poema. 
Breve colocaremos outros sonetos deste avatar literário. 
 
 
 
 
Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

                           Luís de Camões
 
 
 
Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

              Luís de Camões 
 
 
 
Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


                                      Luís de Camões
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  

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